segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Uni - Tali - ban

E a universidade fez coro com os retrógrados, vândalos, sádicos e totalitários. Num ato que demonstra a plena identidade com o que de pior poderia ser gerado em ambiente acadêmico de verdade, a Uniban, agora identificada com o Taliban, expulsou da escola a garota Geisy (a que provocou uma onda reacionária há duas semanas por causa de uma minissaia), "por ferir os princípios da instituição", segundo o departamento jurídico da Uniban. Agora, só falta baixar uma lei obrigando o uso da ´burca´ - aquela roupa que cobre o corpo todo das mulheres muçulmanas - pelas alunas que ainda puderem frequentar algum curso ali, pois para o Taleban, mulher não tem que estudar, só cuidar dos filhos...Lembram disso? Será que nessa faculdadezinha algum dia alguma aluna poderá apresentar um trabalho sobre o "Women´s Lib"???
Mas do MEC vem a advertência: "Uma universidade tem uma obrigação educacional que precisa estar presente em todos os momentos. É um local não apenas de convivência, mas de formação de valores [...] O MEC tem o dever de pedir explicações [à faculdade]. Esse caso me parece ter um forte caráter de gênero. Seria a mesma coisa em um caso de racismo", disse Maria Paula Dallari, secretária de Ensino Superior do Ministério da Educação. Maria Paula também disse que a escola revela preconceito de gênero, pois em nota paga publicada nos jornais, a escola justifica a expulsão alegando que a estudante usava roupas curtas e tinha atitudes provocativas, que teria resultado em uma "reação coletiva de defesa do ambiente escolar" - pasmem! -. A secretária também diz que causou estranheza o fato de Geisy ter sido expulsa enquanto os alunos que provocaram o tumulto terem sido penalizados com suspensão. Na nota, a escola aponta como acertada a decisão de uma sindicância interna, pois houve desrespeito aos "princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade". Rárárá, seria a reação do colunista da Folha, José Simão, que criou um neologismo para os estudantes dessa escolinha: universotários. Dignidade acadêmica??? O que é isso?, para uma instituição que não respeita a dignidade do diferente no ser humano?

Tempos estranhos esses...

O promotor criminal e membro do Movimento do Ministério Público Democrático, Roberto Livianu, não tem dúvida: "a Uniban meteu os pés pelas mãos. A atitude representa um profundo e lamentável desrespeito às mulheres, é um pensamento arcaico". Nenhuma organização pode ter leis acima da Constituição, e é o que se verifica neste caso, segundo o advogado constitucionalista Pedro Estevam Serrano. Ouvido pela Agência Estado, o professor da PUC de São Paulo, considera: "Há algo ainda mais grave, que é o indício de que a universidade tenha agido com preconceito de gênero contra a aluna, ferindo o artigo 46º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que determina o respeito à diversidade e à tolerância".

O Taleban e a "reação coletiva" da turba da Uniban...

Para o psicanalista e colunista da Folha de S. Paulo, Contardo Calligaris, "as turbas têm um ponto em comum: detestam a ideia de que a mulher tenha desejo próprio". Para ele, os alunos que saíram de suas aulas (naquela noite de 22 de outubro) e se aglomeraram numa turba para xingar, tocar, fotografar e filmar a moça, se assemelham às hordas da Idade Média: "Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa [...] Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um ´justo´ protesto contra a ´inadequação da roupa´ da colega. Difícil levá-los a sério."
Pois, levando-os a sério, a direção da Uniban mostra que está mais para Taleban e, agora, vai ter que se explicar ao MEC que tem fatos suficientes para cassar a licença da escola.

Um comentário:

Flávia Lima disse...

Excelente analogia, professor! Como sempre, texto impecável. Concordo com o psicanalista, parecemos ter voltado à Idade Média com esse episódio... absurdo!
O MEC tem mesmo é que cassar a licença dessa... UniTaleBan!
beijinhos escarlates!