quinta-feira, 27 de maio de 2010

Black Brasil

A seleção brasileira de futebol finalmente viajou para disputar a Copa do Mundo na África do Sul. Alguém reconhece o fardamento nacional na indumentária ostentada por toda a delegação durante sua estada em Curitiba, na primeira fase da preparação? Eu nunca tinha visto esse uniforme preto...E na foto oficial, então, no Planalto Central, antes da partida: um desajeitado Ricardo Teixeira se espremendo pra tentar sair bem, bem coladinho ao Lula, que tem ao lado uma dona Mariza vestida com a amarelinha...Sim, somente ela. No mais, tooda a equipe num esquisitíssimo modelito preto com listras grafite (a seleção passou de canarinho a tiziu), com destaque exagerado dos nomes dos patrocinadores do escrete nacional...Hórrivel!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Surpresas do paladar no Pari

Arais!
Junto, em árabe. Esse significado é o sentimento natural do ser humano, que tem a característica gregária, o viver junto, o sentido da união. Pois é isso o que fez Carlinhos. Juntou todo mundo na casa dele e começou a misturar as tradições que trazia da memória de seu povo, com as especiarias que encontrou na nova terra que o acolheu. Carlinhos – que na verdade se chama Missaki, nome comum na Armênia como José por aqui – juntou coisas diferentes para estabelecer um novo marco na culinária árabe paulistana. É um prato que parece ser comum à cozinha árabe, mas que não tem similar entre os povos que têm tradição na cultura árabe. Ele queria fazer uma esfirra. Estava com vontade de comer uma esfirra. Mas não dispunha dos ingredientes e nem havia onde comprar nas proximidades do lar. Então, juntou carne, tomate, temperos variados, abriu um pão árabe, colocou tudo dentro, levou ao forno – a lenha – mas não aprovou o resultado. Tirou o tomate. Provou. Gostou. Chamou os amigos e, diante da eufórica degustação, teve a certeza: estava óptimo (assim, com pê mesmo, pra dar mais ênfase). Arais!
A expressão árabe encontrou a plenitude na reunião da comunidade armênia no Pari, tradicional bairro paulistano com muitos imigrantes, dentre os quais os armênios. Eles são tradicionais artesãos dos calçados, mas também se aventuram por outras habilidades, como Garô Aharonian, fotógrafo de fino trato, mestre das oficinas profissionalizantes do Senac. São alegres, artífices de festas memoráveis. Talvez seja próprio, da essência desse povo. Quem sabe tenha sido um sentimento cultivado, depois do horror do massacre imposto pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial. Considera-se que até um milhão e 500 mil armênios desapareceram no que é conhecido como o primeiro genocídio da História Moderna. Até hoje, a Turquia não aceita que se diga que tenha cometido genocídio. O que terá sido? Massacre? Chacina? Holocausto? Trocando-se o termo, o que muda na História, e na memória, desse belo povo, herdeiro de cultura e tradições milenares...Antes de Roma, no século IV (ano 301), a Armênia foi o primeiro país a adotar formalmente o Cristianismo como religião oficial de Estado. Sofreu sucessivas ocupações e divisão, provocando uma diáspora que levou os armênios para várias partes do mundo.
No Brasil, Missaki encontrou um jeito de superar as dificuldades promovendo a reunião de amigos em torno da mesa. Da boa mesa, diga-se, o que influenciou e foi determinante para o filho Fernando. Este, é um caso especial. Seu hobby, quando estudante adolescente, era receber primos e amigos da escola e da comunidade na própria casa para brincar de...restaurante!
Arais!
Missaki juntou a fome com a vontade de comer. Reuniu a família e montou o Restaurante Carlinhos, o que faz a felicidade geral da paulicéia desvairada, que ganhou um rincão armênio que satisfaz a gregos, baianos e paulistanos que comem a não poder mais. Não é preciso nem fazer pedido. Fernando vai trazendo os pratos prontinhos, à medida que o cliente vai terminando de saborear o que lhe foi servido. E a primeira especiaria chega em menos de cinco minutos. É o Arais! Surpreendentemente simples, gostoso e inacreditavelmente leve. A partir daí, é uma sucessão agradabilíssima de surpresas do paladar...A sobremesa? Só embrulhando pra viagem. Arais!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Carona de trem combate a Depressão

Durante a Depressão Americana –como ficou conhecida a crise financeira provocada pelo ´crack´ da bolsa de Nova York, nos anos ´30 do século passado– homens lutavam por qualquer coisa que pudesse lhes garantir que ainda tinham honra ou que pudessem demonstrar ser o melhor em algo, ainda que isso nada significasse para mudar a triste rotina de suas miseráveis vidas, nem que tivesse o condão de transformar a situação triste em que viviam. Em 1973, o diretor de cinema Robert Aldrich utilizou esses elementos como argumento e produziu um clássico: Emperor of the North Pole (O Imperador do Norte, no título brasileiro). No filme, Lee Marvin, autointitulado “O Imperador do Pólo Norte”, conhecido entre seus errantes colegas maltrapilhos como “nº 1”, vangloria-se de pegar carona em qualquer composição e viajar sem pagar para qualquer parte do país. De outro lado, Ernest Borgnine é Shack, temido condutor que ameaça até com a morte quem se atrever a pegar carona em trem sob seu comando. O nº 1 anuncia que que irá tentar a façanha. Está lançado o desafio. E os miseráveis apostam seus tostões; no vagabundo ou no chefe do trem. Depois de memoráveis cenas de muita tensão, ação e superação, Marvin alcança seu objetivo e crava com giz o “Nº 1” na locomotiva, para que todos vejam que ele é homem de cumprir o que promete...
Maio de 2010, em meio à crise que arrasta vários países europeus, e cujos reflexos são ainda sentidos no Brasil, dois garotos de periferia, de dez e doze anos, pegam carona num trem na distante cidade paulista de Santa Fé do Sul, e viajam a esmo. Um deles salta em São José do Rio Preto, mais de 220 km depois, e o outro fica em Santa Adélia, quase 300 quilômetros do ponto de partida.
Dois dias fora de casa foram suficientes para deixar apavorados pais, mães, irmãos e amigos. Mas, no reencontro, o rosto de um quanto o do outro mostravam um ar de felicidade indescritível para quem não imagina o prazer que pode sentir um garoto deserdado de tudo, demonstrar ser capaz de realizar uma façanha.
É..., carona de trem pode ser um antídoto contra grandes ou pequenas depressões.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Hillary, o bush de Obama. Ou a pax americana

Inaceitável!
Como pode um paizinho desses, do nosso quintal da América Latrina, ousar ter a pretensão de nos dar lição de diplomacia...
Isso é o que teria dito, ou pensado, a toda-poderosa secretária de Estado norte-americana quando viu concretizado o acordo amarrado pelo governo brasileiro, com o apoio do governo turco, estabelecendo as normas nucleares para o Irã, coisa tentada sem sucesso anteriormente por algumas das potências do bloco de segurança da ONU...Sim, a mesma ONU que disse "não" à guerra contra o Iraque, e que George Walker B. ignorou solenemente, dizendo que faria (e fez!) o ataque alegando que o governo iraquiano possuía imenso arsenal de armas de destruição em massa, até agora não encontradas...E olha que os norte-americanos estão revirando o solo iraquiano há bastante tempo. Pois é. Agora vem a senhora Clinton -que não conseguiu pôr ordem no próprio lar-, dizer como e quando um acordo tem valor. Esse, assinado por Brasil, Irã e Turquia, não tem valor, diz ela. E tanto fez que, um dia depois de assinado, Hillary mandou para o esgoto da História o que poderia ser visto como um marco das negociações internacionais, desde que haja, realmente, vontade de que uma negociação aconteça. O chanceler brasileiro, Celso Amorim alerta: não é atitude construtiva fazer pouco caso de um acordo firmado entre três nações independentes. Há quem diga que ainda é muito difícil, pra não dizer impossível, que uma superpotência aceite o protagonismo de uma nação emergente...A conferir.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um, dois, feijão com arroz...ou a greve de fome

Lendo um artigo de jornal me vem à mente essa antiga brincadeira da distante infância, que começava assim: "Um, dois, feijão com arroz; três, quatro, feijão no prato..." e seguia em frente com outras rimas simples do cotidiano, só para enaltecer o valor nutritivo do feijão, que é considerado uma preferência nacional. Durante muito tempo -talvez por causa de um complexo de inferioridade- considerávamos essa escolha uma opção menor. Ainda mais quando comparada aos ovos com bêicon da refeição matinal dos americanos do Norte. Passou o tempo. E outro dia ficamos sabendo que o Brasil está certo: arroz com feijão foi considerado, em pesquisa internacional, o prato mais bem balanceado para a regularidade do organismo humano. O complemento básico, com ovo e/ou bife e salada, é a pedida mais tradicional. Mas pode ser bem variado, sem mexer na combinação do feijão-com-arroz.
Recuperada a auto-estima, o brasileiro ainda viu valorizado o feijão, numa série que ficou famosa na tevê, "João e o pé de feijão". O grande salto cultural surgiu com uma canção do Gonzaguinha- "Dez entre dez brasileiros preferem feijão...", que virou 'hit' nacional como tema de novela da Globo. Além de preferência nacional, o feijão modela o corpo. Dizem que, além da influência africana, a silhueta da mulher brasileira é determinado pelo consumo do feijão. Daí, chega-se à máxima de que, no Brasil, até japonesa tem peito e bunda. É o feijão!
Lembro que nos idos de longínquos anos 1970, um livro para controle de peso e modelagem da silhueta, "A dieta revolucionária do dr. Atkins", fez sucesso no mundo todo, menos no Brasil. É que, dentre outras coisas, o Dr. Atkins mandava cortar o feijão.
O brasileiro só reduziu o consumo de feijão numa época em que o preço estourou. Hoje, há quem corte o feijão por opção. Ou imposição. Da ditadura da moda, que determina uma estética visual europeia, distanciada da realidade brasileira. A partir daí, a febre da adequação ao figurino imposto pelas agências de modelos arrastou multidões de adolescentes obcecadas pelo modelito "campeã de natação": nada de peito, nada de costas, desencadeando uma onda anoréxica que levou muitas à morte. Agora, chegou às crianças. Contardo Calligaris, em artigo na Folha de S.Paulo, cita pesquisa que aponta "81% das crianças (norte-americanas) de 10 anos estariam com medo de ser gordas, e 50% das meninas dessa idade declararam estar fazendo regime (...) hoje, a forma e o peso preocupam até as crianças".
Ao contrário de culpar a preguiça e o sedentarismo pelo aumento de peso, Calligaris cita estudiosos do comportamento para inferir que "quando alguém sente que tudo na sua vida está fora de controle, ele sente também que os alimentos, o peso, o exercício (físico) são coisas que, em princípio, ele poderia controlar".
O psicanalista Contardo Calligaris considera que, diferentemente do que acontece com nossa vida amorosa e profissional, "acreditamos (com certa razão) que nosso peso e nossa forma dependem de nós". Para ele, é tentador propor uma equação: quanto menos estamos no controle de nossa vida (amorosa, profissional, social e mesmo moral), tanto mais nos preocupamos com peso e forma, que, bem ou mal, podem ser controlados. Citando outro profissional terapeuta, resume assim a fala de um paciente: "Se você não me escuta e não deixa nunca que minha opinião conte, posso ao menos escolher não comer nada".
Diante de tal declaração, Calligaris observa: "De repente, a greve de fome dos presos políticos pode ser um modelo para entender o que acontece nos transtornos alimentares e em nossa preocupação com peso e forma. Certo, na greve de fome os presos põem a vida em risco para promover uma causa (a sua própria ou outra). Mas eles também exercem, heroicamente, o que lhes sobra de liberdade; eles não são escutados, estão encarcerados, não podem nada, mas há algo que eles controlam: sua própria ingestão de alimentos".
Na visão dos terapeutas, a obsessão por regime e exercício é própria de quem não controla nada. Como último recurso, tenta controlar sua alimentação, seu peso e sua forma. E Calligaris conclui: "Só nos resta admitir que não controlamos nada, como os presos".

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Liberdade de expressão...livre arbítrio?

O ser humano é diferenciado de toda a criação por uma particularidade única: ele pensa! Mas pensar dá trabalho. É preciso ter tempo. Por isso é que o jornalista Jefferson Barros, estudioso de Gramsci, escreveu o pequeno grande livro "A função dos intelectuais numa sociedade de classes", determinando: a função do intelectual é pensar. É que o trabalhador não dispõe de tempo. O operário, o agricultor, o executor de tarefas na sociedade de classes vive assoberbado de ocupações que não lhe deixam tempo para pensar. Talvez a lógica capitalista seja exatamente esta: não permitir que o operário pense. Há alguns anos, dourando a pílula da tecnologia, vendia-se a ideia de que a robotização viria para executar tarefas que oprimiam os trabalhadores, e que lhes deixaria mais tempo para o lazer e a convivência familiar. Estudos econômicos mostram que é mais produtivo turno único de cinco a seis horas, em vez dos dois turnos que perfazem oito a nove horas diárias. Mas não se fez a alteração anunciada, que permitiria o tempo livre ao assalariado. Com tempo livre, ele poderia pensar. Aí, revela-se a terceira faceta do pensar: é perigoso. Além de dar trabalho, e de requerer tempo, pensar é perigoso. Ao pensar, o ser humano pode querer se expressar, comunicar. O livre arbítrio com a liberdade de expressão pode tornar-se perigosa arma, se utilizada tendenciosamente.

Leio artigo do jornalista Palmério Dória, publicado nesta Sexta-feira Santa. Sob o título "Crime e Castigo", em que conta importante passagem da História recente do Brasil, que teve trajetória absolutamente obtusa, beneficiando um político em detrimento de outro, em razão única e exclusiva da utilização tendenciosa de um fato, através de relato inexato de um jornalista, que provocou mudança radical na cena política brasileira em Agosto de 1954.

O jornalista em questão é Armando Nogueira -morto esta semana aos 84 anos- e o fato, o alardeado 'atentado' contra o político e jornalista Carlos Lacerda, na rua Toneleros, na madrugada de 5 de agosto de 1954. Palmério relata que próximo ao local estava Nogueira com amigos, e "assistiu ao pandemônio que se instalou naquela rua de Copacabana, paralela à praia famosa no mundo inteiro. Dali, Armando partiu para contar nas páginas do Diário Carioca, onde trabalhava, na primeira pessoa, aquele que viria a ser carimbado pela imrensa de então como o Crime do Século. Crime que a oposição a Getúlio Vargas, incendiada pelo próprio Lacerda, iria explorar com tal sanha, que levaria o "pai dos pobres" ao suicídio - aliás, este sim o crime do século 20".

O título do artigo remete ao livro homônimo em que Dostoievsky explora a psique humana revelando que, ao cometer um crime, seu autor tem a necessidade de confessá-lo, vivendo atormentado enquanto não o fizer. Por isso, em "Crime e Castigo", o escritor russo mostra um atormentado Raskolnikov, jovem que cometeu brutal assassinato, teoricamente um crime perfeito, porque sem provas, que acaba por se apresentar voluntariamente para a confissão ao delegado.

Palmério Dória explica como foi a confissão de Nogueira:

"No começo dos anos 1980, Armando Nogueira, então todo-poderoso diretor de jornalismo da Rede Globo, reencontrou o ex-pistoleiro Alcino - que havia cumprido 21 anos de pena (por ter matado a tiros o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz na madrugada de 5 de agosto). Foi durante a gravação de um Globo Repórter na rua Toneleros. Depois, Armando me fez confidências, na salinha em que eu trabalhava na emissora, talvez tocado pelas emoções da noite, talvez por Alcino ser meu amigo - escrevi suas memórias. Armando me segredou que não contou na época exatamente o que viu (...) Perguntei o que levou o repórter Armando Nogueira a contar o que não viu - "Na verdade, a cena que vi foi um fogo cruzado de Lacerda e Alcino, o major no meio", e por aí foi - num crime crucial na história do Brasil. Armando Nogueira nunca respondeu nem podia responder."

Essa narrativa a serviço do golpe contra Vargas, segundo Palmério Dória, "fazia parte de um conjunto de crimes maiores e menores que levaram Vargas a matar-se 19 dias depois. O Diário Carioca, comandado pelo jornalista Pompeu de Souza, inicialmente de feroz oposição, tornou-se verdadeira extensão da República do Galeão, aparelho policial-militar a serviço da mais cega direita, instalada na Base Aérea do Galeão, onde se torturou, barbaramente, até gente da guarda do Palácio do Catete, com o objetivo de incriminar e derrubar Vargas. E Armando contou o que convinha para os torturadores e seus superiores militares e civis."

Quanto a Lacerda, não levou tiro nenhum. Usou o tal 'tiro no pé' para posar de vítima com mais convicção, carregado no colo que foi por soldados da Aeronáutica, e assim fotografado para publicação nos jornais. "Cá entre nós -acrescenta Palmério- no tiroteio se usou arma calibre 45, com bala que teria destruído o pé de Lacerda, o que não aconteceu". Alcino João do Nascimento tem 87 anos e não abre mão de sua história.O mestre-de-obras garante: atirou, sim, no peito do major Vaz, mas nega o tiro no pé de Lacerda. Este, passou a vida explicando o porquê de nunca ter mancado,,,

Assim se faz história, diz Palmério Dória, e pergunta: "Quais razões ele tem para mentir? As razões de Armando Nogueira não sabemos, só podemos supor: muito possivelmente ajudar a derrubar Vargas".

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A cidade que me foi roubada

Get up!/stand up!/get up for your rights...
Uma antiga lição que vale sempre rever, sobretudo nos versos cadenciados pelo reggae de Marley, ritmo que pôs a Jamaica no mapa múndi cultural naqueles agitados anos '70 do século passado...
Caminhar pelas ruas da Cidade Velha - com os ecos da batida forte da banda Wailers, que por muitos anos acompanhou o mestre jamaicano do reggae -, contemplando fachadas azulejadas em estilo português, torres de igrejas, sobradões em decomposição em tons esmaecidos de vermelho, verde, amarelo e azul, em contraste com outros - em recuperação -, de tons fortes, em vermelho, verde, azul, laranja e amarelo. A água encapelada na maré cheia na Baía do Guajará, por trás do Solar da Beira, brilhando, brilhando contra um céu de turmalina, mesclado do cinza-chumbo de nuvens carregadas, com rasgos afogueados em tons de vermelho-alaranjado, nas derradeiras manifestações solares anunciando o cair da noite estrelada...
Ah!, esta cidade nunca mais será a mesma para mim, depois que me foi roubada por algozes usurpadores da paz alheia, cujo bem maior que me foi tirado foi essa alegria das andanças descompromissadas de tempo e de preocupações, de lugares e de horários. Agora, mais que nunca, é preciso relembrar a batida forte de Marley: Get up!, stand up!, stand up for your rights...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Iron Jawed Angels

O título poderia ser traduzido livremente como "Anjos com Presas de Aço". É um desses filmes que te pegam de cara: meio da fita (zapeando na tevê paga), fim da madrugada, dia clareando, e lá está você, atento, olhando, curtindo, torcendo, aprendendo com a mensagem, se deliciando com as interpretações...Sobretudo uma aparição fugaz de Anjelica Houston...
A história do filme é a luta das mulheres norte-americanas pelo direito de votar. Elas são as sufragistas. São ameaçadas de prisão, vão presas, são espancadas, não têm direito a advogado, nem ao famoso telefonema - alardeado em toda e qualquer produção hollywwodiana -, enquanto o governo de Thomas Woodrow Wilson declara guerra à Alemanha alegando defender a democracia, os direitos civis dos cidadãos livres etc. e tal...As mulheres alegam que o discurso de Wilson para o público externo não vale para o interno, e mandam um comunicado à imprensa dizendo que "na cadeia ou em casa, a mulher americana não tem liberdade". Nos comitês femininos, da primeira década do século passado, elas argumentam que, "até os negros", depois da Guerra de Secessão (American Civil War), conseguiram o direito de votar, negado às mulheres.
A líder do movimento é Alice Paul (que lutou pelos direitos civis até morrer, em 1977), encarnada pela magistral atriz Hilary Swank. Em seus protestos, Alice Paul discursava utilizando frases do próprio presidente Wilson que, em outras ocasiões, defendia exatamente o posicionamento que elas estavam assumindo e, por causa disso, eram presas e espancadas. Numa das cenas mais tocantes de tais manifestações, ela pegava uma folha de papel, lia declarações de Wilson, e jogava no fogo que ardia dentro de um latão...
O filme de Katja von Garnier indica que o direito ao voto foi garantido à mulher norte-americana em agosto de 1920. A luta continua...