quarta-feira, 18 de novembro de 2009

This is America. But...

América Central, América do Norte, América do Sul. Nessa ordem, se for pra seguir o alfabeto...Enfim, América.
Mas, qualquer um que já tenha visitado Miami ou não, sabe que 60% da população é composta por latinos (sim, os latino-americanos), e o restante, não sendo latino, fala castelhano ou arremedos dele, ainda que sejam norte-americanos. Da Flórida, até o Alabama, é essa a ordem das coisas. Mas, ao cruzar com um americano "wasp", o vocábulo discricionário que identifica os "americanos de verdade" - w= white(branco); as= anglosaxão (a ascendência britânica, colonizadora); e p= protestante, a religião predominante -, o latino recém-estabelecido em território alienígena (sim, porque mesmo sendo americano, do Sul, do Centro, é discriminado), tem um choque ao ouvir, de forma arrogante: "This is America", disse-me Dácio, que morou em Miami em 1994, representando uma empresa brasileira que tinha negócios lá. Ele lembra que, naquele ano, disputava-se a Copa do Mundo de Futebol em território norte-americano, mas, nos jornais locais (Miami Herald, em inglês e espanhol), somente uma linha, no pé da página dava os resultados dos jogos. Todo o espaço era ocupado com "as coisas da América", deles...O que é o futebol?, coisa de subdesenvolvidos. Eles só lutaram pra promover a Copa do Mundo em troca do capital - a velha e boa grana - que, certamente, amealharam...This is America!
Ok!, eu já sabia. Eu também sou América. Rarará. Isso é o que diria José Simão - o debochado colunista da Folha de S. Paulo -, porque não dá pra levar a sério tamanha arrogância dos também colonizados, como de resto toooda América. Afinal, os que na América (Central, do Sul ou do Norte) chegaram cuidaram de aniquilar a vida anteriormente existente, fazendo com que qualquer sinal de civilização pré-estabelecida fosse eliminada.
Muito bem.
Isso posto, façamos um pequeno paralelo com a crise vivida atualmente em Honduras, onde um presidente eleito pelo voto democrático foi deposto do cargo e um fantoche assumiu o posto, num claro golpe de estado, arrostando a lei e se autointitulando o defensor da legalidade. Se a Carta Constitucional foi aviltada (o presidente deposto foi retirado de sua residência em pijamas, sob a mira de metralhadores e embarcado em avião para fora do país, ferindo a legislação local), como autoproclamar legalidade?
Muito se tem escrito a esse respeito, sobretudo para condenar (aqui no Brasil) a posição brasileira de dar asilo ao presidente deposto que buscou guarida na embaixada brasileira em Tegucigalpa.
Recomendo a leitura do artigo do jornalista José Arbex Jr. na revista "Caros Amigos" de outubro/2009, p.7, em que diz: A "crise de Honduras" sintetiza e ilumina um momento histórico ímpar na história mundial. Pela primeira vez, desde 1823, quando James Monroe formulou a doutrina que leva o seu nome ("a América para os americanos" - quando, de fato, tinha em mente "a América para os estadunidenses"), Washington, nitidamente, perdeu o controle e a iniciativa sobre os desenvolvimentos políticos e sociais na América Latina e no Caribe.
E Arbex continua: O papel assumido pelo Brasil, nesse quadro, tem dimensão explosiva: em nome dos princípios democráticos que devem nortear a relação entre os Estados, o governo brasileiro não se limitou a "condenar" o regime golpista, nem se contentou com sanções limitadas. Isso pode inaugurar uma nova etapa da relação do Brasil com a comunidade mundial das nações, e abrir o caminho para novos desdobramentos democráticos na América Latina.
Na conclusão de seu artigo, Arbex lembra: "Desde 1823, o jogo entre as nações do planeta tinha na Doutrina Monroe um de seus parâmetros. Nenhuma outra potência mundial sequer tentou, seriamente, disputar a hegemonia dos Estados Unidos na região (exceto no famoso episódio dos mísseis de 1962, quando a então União Soviética tentou transformar Cuba em plataforma de lançamento de mísseis nucleares). Hoje, a Doutrina Monroe, pela primeira vez, começa a fazer água, mas não num quadro qualquer, e sim no da maior crise enfrentada pelo capitalismo desde 1929".
A grita é grande (de parte encomendada da crítica) contra o posicionamento adotado pelo governo brasileiro. E, sobretudo, por ter o deposto governo hondurenho se alinhado com o venezuelano na Alba. Mas, tudo faz sentido, se lembrarmos que, em abril de 2002, Washington apoiou uma frustrada tentativa de golpe para depor Hugo Chaves (que tem a ver com a cassação da concessão de uma emissora de TV que defendeu o golpe), e que também fracassou ao tentar fabricar uma guerra civil para acabar com o governo do ´cocalero´ Evo Morales na Bolívia, em 2008.
Yes, we are America!

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