segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Inépcia premiada...festa na rua

Muitas vezes, quando um país sai de uma grande aflição, escapando de um governo tirano, vê-se nas ruas uma justa comemoração. Afinal, depois de anos e anos de sufôco, de falta de liberdade, sair às ruas pra olhar nas caras das pessoas, para expandir o sentimento da reconquista do Estado de Direito, é um reconfortante estado de espírito que tem o condão da multiplicação da alegria, uma necessidade básica da liberdade tanto tempo contida, abafada, proibida. Num passado recente, temos o exemplo de Portugal, com a Revolução dos Cravos(anos '70, do século passado), que acabou com mais de 50 anos de ditadura salazarista. Igualmente entre os espanhóis, que saíram da longa ditadura franquista. E o exemplo amplamente divulgado, da queda do muro de Berlim, no final dos anos '80... entre outros ícones de manifestações públicas que expressam uma explosão de alegria coletiva que tem razão de ser.
Mas quando temos um prefeito candidato à reeleição, que utiliza dinheiro público para massificar sua presença nas ruas, através de colaboradores a soldo diário, com faixas e bandeiras. E ainda mais quando se sabe que a prefeitura está devendo à população coisas prometidas e nunca realizadas. Uma vitória em segundo turno onde nenhuma nova proposta foi apresentada, sendo as mesmas de sempre, agora requentadas, pela palavra de um candidato-prefeito que foge de todas as perguntas diretas e objetivas a ele formuladas. E que, acima de tudo, tenta cercear o trabalho da imprensa, propondo processos judiciais (indeferido pelo juiz, por contrariar a Liberdade de Imprensa, garantida pela Constituição Federal) contra emissora de televisão que mostra as mazelas enfrentadas pela população em todos os níveis...Ele quer proibir que se apontem os problemas alegando que isso atrapalha a campanha dele, e só a dele. Ora, se ele é o prefeito, mostrando-se os problemas, ele teria a oportunidade de indicar a solução. Mas como?, se em 4 anos não fez, deve-se acreditar agora? Pois é: encerrada a eleição, abertas as urnas, surge a realidade de um novo mandato ao pequeno títere que quer barrar a imprensa que não está no bolso dele. E as pessoas fecham ruas para uma festa adrede preparada. Mas, o simples fato de fechá-las dá o tom da comemoração mesquinha dos apaniguados. A massa não tem nada pra comemorar. Melhor faria manifestando-se em assembléia, onde seria cobrado documento público de responsabilidade do alcaide. Pois ele não passa de um chefe de executivo, pago pelo povo, para realizar o que a cidade pede. Em razão disso, comemorar o que? A constatação de que a ineficácia, a inépcia, deva ser premiada? Ou simplesmente festeja-se a adequada aplicação do cabresto que garante mais quatro anos de farra remunerada?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A liberdade nossa de cada dia

“Liberdade, liberdade,
abre as asas sobre nós”
Hino à República

É amplamente conhecida a máxima que diz: quando acontece uma guerra, a primeira vítima é a liberdade. Isso porque a divulgação de notícias pela imprensa passa a ser controlada diretamente pelo comando de guerra. No recente conflito conhecido como Guerra do Golfo, cunhou-se um novo termo ( 'embeded' ) para denominar os jornalistas que viajaram no navio militar e ficaram limitados a divulgar somente o que era liberado pelo comando da guerra. Isto é, nada que contrariasse o ponto de vista oficial dos militares norte-americanos. Na guerra do Vietnã, os jornalistas basicamente ficaram em Saigon, dominado pelos militares norte-americanos. Alguns se aventuraram aos campos de batalha, como o jornalista brasileiro José Hamilton Ribeiro. Em busca de uma foto para a capa da revista Realidade (da época, 1968), pisou numa mina e perdeu uma perna. Para Hanói, capital vietcong, apenas o escritor e jornalista brasileiro, Antônio Callado, se deslocou, de onde divulgava seus pontos de vista absolutamente originais, em relação aos que ficaram limitados ao que permitia o comando dos EUA. Em outros momentos, como a Guerra da Bósnia, para se livrar do incômodo de jornalistas tentando divulgar notícias independentes, os chefes da guerra determinaram o bombardeio do prédio que abrigava os jornalistas. Nesses momentos, surgiu uma nova emissora árabe de televisão ( 'Al Jazzeera' ), que furou esse bloqueio, passando a ser uma alternativa para a obtenção e divulgação de notícias, da guerra e dos próprios jornalistas. Por essas e outras, compreende-se que a máxima da cabeça do texto é uma realidade. Mas não apenas na guerra. Também num golpe, como o ocorrido no Brasil em 1964. A ditatura militar não permitia a divulgação de nada que mostrasse a realidade do que estava acontecendo em território nacional, com as prisões de quem contestasse o regime –ainda que apenas intelectualmente–, mortes, tortura e desaparecimento de pessoas, até hoje não esclarecidas. Por conta disso, jornais foram fechados, jornalistas perseguidos, e reportagens eram cortadas pela censura. Em contraponto, alguns jornais começaram a deixar de preencher os espaços vazios pela exclusão de matérias, e as páginas com espaços em branco denunciavam a intervenção proibitória. Para evitar isso, que evidenciava para o leitor a situação de fato existente, foi proibido que o jornal fosse para as bancas com espaços em branco. Nesse momento, entra a criatividade. E dois jornais paulistanos inovaram, publicando, nos espaços que ficariam brancos, receitas culinárias (Jornal da Tarde); e sonetos poéticos (O Estado de S.Paulo). Foi a forma encontrada para avisar aos leitores de que ali deveria se publicada nota que a ditadura militar queria esconder.
Era uma forma ousada de aviso de que a liberdade estava cerceada.
Não por acaso a Imprensa é chamada de 'o 4º poder'. Quer dizer, a República se constitui com o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, e a Imprensa. Que passa a ser a 'voz do povo' . Num primeiro momento, ela é os olhos e os ouvidos, que adentram os locais negados ao povo, e a estes transmite o que é necessário transmitir. Para tanto, é preciso que tenha independência. E, sobretudo, liberdade. A liberdade ansiada, desejada por todos. A liberdade é aspiração natural do ser humano. A tal ponto é considerada, que nem sequer pode receber punição específica um condenado que engendre fuga de local onde esteja confinado, encarcerado.
Por ser a aspiração à liberdade inerente à condição de plenitude do ser, a Liberdade de Imprensa é essencialmente fundamental para o exercício pleno da cidadania, vez que torna-se a referência maior das relações humanas em sociedade. Por essa razão, a Constituição Federal garante, em artigo específico, que é vedada toda e qualquer forma de censura de natureza política, ideológica e artística. E garante que é livre a manifestação do pensamento, assim como a expressão da atividade intelectual. Nessa Liberdade de Imprensa prevista na Carta Magna, está implícita a responsabilidade social. Assim como é assegurado a todos o acesso à informação, e resguardado o sigilo da fonte, quando for necessário ao exercício profissional, também é assegurado o direito de resposta a quem se sentir atingido moralmente por informações que possam ser contestadas. Assim, a Liberdade de Imprensa pode ser considerada a guardiã da República. O mote do Hino à República, em destaque na abertura deste texto é um exemplo de que a Liberdade de Imprensa é um dos pilares de garantia da vida republicana.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O voto e o direito obrigatório

Votar ou não Votar, eis a questão.
Além da indiferença à política, há outros fatores que podem fazer um cidadão, uma pessoa comum, a não querer comparecer a uma seção eleitoral para depositar o seu voto. Depositar é modo de dizer, pois agora o que se faz é apertar algumas teclas numa 'urna' eletrônica, que já estão apelidando de 'caixa preta' (quem diz isso é ninguém menos que Mary Cohen, da comissão de Direitos Humanos da OAB/PA). Um dos motivos, é a mesmice que representam os dois candidatos que se enfrentam em segundo turno. Sempre se espera que um 'melhorzinho' sobreviva, passe para o segundo turno. Mas, não. Em geral, sobram o ruim e o peór. Pior quando é o péssimo e o muito péssimo.
Mas há implicações: quem deixa de votar não pode participar de concurso público...Mas, processado criminalmente, o cidadão pode se candidatar e, sendo eleito, livrar-se do processo.
Afinal, se o voto é um direito do cidadão, como pode haver punição pela não utilização desse direito? A punição elimina o direito...
A quem serve a obrigatoriedade? Muito claramente ao chamado 'voto de cabresto'. Afinal, se já é defícil, complicado mesmo!, às vezes sair de casa, ir à seção eleitoral, mesmo que seja perto, enfrentar fila, falta de estrutura, urna quebrada, sistema que não funciona, listas fora de lugar, mudança de local de votação, falta de acesso a deficientes...imagine então ter que 'viajar' pra votar. Percorrer longas distâncias, enfrentar chuva, rios, áreas desérticas. Aí, entra a figura do 'coronel' (que não existe só no sertão, não), o grande benfeitor, que se encarrega de transportar (carregar mesmo) o eleitor, providenciando também 'otras cositas', para garantir que o cidadão vote, com certeza, no candidato do coronel, quando não, no próprio coronel...
Bem, o voto obrigatório tem também o dom de gerar o famigerado eleitor-fantasma. Por estranho que possa parecer, há cidades em que a lista de votantes é maior que a lista de habitantes. Há as mudanças de endereço encomendadas, como mostram denúncias de eleitores transferindo o título para cidades distantes, em troca de dinheiro e outros favores...
Enfim, a presença maciça de eleitores nos dias das eleições, no Brasil, não é sinônimo de conscientização política. É reflexo de subdesenvolvimento constitucional. Seria muito mais elegante participar de uma escolha da qual participam pessoas conscientes, preocupadas, realmente, com os destinos de um país. Logo, isso fica claro: não há o menor interesse dos poderosos de que o voto seja facultativo. Pois nesse caso, o grande contingente de eleitores facilmente manobráveis ficaria de fora, vez que estaria desobrigada de comparecer a uma seção eleitoral. E aí, o comparecimento seria maciço entre os eleitores que têm, de fato, posicionamento claro e declaradamente têm opção política. Somente candidatos de partidos surgidos da base, mesmo, não teriam receio desse tipo de voto, pois seus eleitores são convictos. Como por aqui os partidos surgem de negociatas entre os grandes, e mudam de nome para 'vender' melhor imagem, como a embalagem de sabonetes, então vamos manter a consciência utópica de que o voto facultativo é, ainda, uma miragem.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Humanisno em tempos de violência

VIOLÊNCIA SALVADORA.
PARADOXAL?
SIM.
MAS É O QUE ACONTECE NA NOSSA REALIDADE,
SEMPRE SURPREENDENTE.
SENÃO VEJAMOS:
UMA GAROTA DE 15 ANOS, ADOLESCENTE
NA 'FLOR DA IDADE' É BRUTALMENTE
ASSASSINADA POR UM MALUCO
QUE NÃO CONSEGUE CONTROLAR
SEUS BRUTOS SENTIMENTOS...
O CASO É TRISTE.
UMA FAMÍLIA CHORA. UMA CIDADE CHORA
O PAÍS CHORA...
A TRISTEZA TOMA CONTA DOS CORAÇÕES.
MAS HÁ UM CORAÇÃO DE MÃE ATENTO.
A MÃE DA MENINA ASSASSINADA
TEM UM GESTO DE BONDADE,
DE COMPREENSÃO,
E DE EXTREMA HUMANIDADE.
DOA OS ÓRGÃOS DA GAROTA,
QUE VÃO SALVAR VIDAS DE MUITA GENTE.
...
AQUI EM BELÉM, UMA FAMÍLIA TAMBÉM CHORA.
MAS É UM CHORO DE ALEGRIA,
PELA GRAÇA LONGAMENTE ESPERADA,
E AGORA ALCANÇADA...
MARIA AUGUSTA DOS SANTOS
SOFRIA HÁ 39 ANOS.
NASCEU COM UM PROBLEMA CARDÍACO INCURÁVEL.
A SALVAÇÃO POSSÍVEL, SÓ COM TRANSPLANTE.
MARIA AUGUSTA DEIXOU BELÉM,
A CIDADE NOVA, ONDE MORA SUA FAMÍLIA.
E FOI PRA SÃO PAULO, HÁ DOIS ANOS.

ONTEM, AO COMPLETAR 39 ANOS,
MARIA AUGUSTA DOS SANTOS GANHOU
DE PRESENTE UM CORAÇÃO NOVO.
NOVO MESMO, DE APENAS 15 ANOS DE VIDA.
O CORAÇÃO QUE ALIMENTOU OS SONHOS
DA GAROTA BRUTALMENTE ASSASSINADA,
AGORA BATE DE ALEGRIA NO PEITO
DE MARIA AUGUSTA.

E UMA FAMÍLIA SORRI E CHORA
DE PURA ALEGRIA,
NA CIDADE NOVA DE BELÉM...
...
Há 40 anos, estupefatos, vimos o cirurgião Christian Barnard dar uma entrevista na África do Sul, logo depois de realizar a primeira cirurgia de troca de coração. O paciente sobreviveu não mais que uma semana. E, estupefatos, perguntávamos pra que tudo isso (o transplante), se o resultado é tão fugaz...Sorridente, o elegante doutor Barnard explicou que, num futuro próximo, tudo seria diferente. A ousadia daquele dia, disse o médico, teria reflexos algum tempo depois...
'Ousar lutar, ousar vencer' era o mote de um grupo de jovens inconformados com os caminhos que o país tomava naqueles conturbados e fascinantes dias de 1.968. Os fatos estão aí. Alguns deles contam a história, ainda que incompletamente. Outros estão por ser contados, desde que se encontrem as pessoas certas, que estejam dispostas a abrir o coração para se livrar de mazelas cometidas ou apenas testemunadas...Corações abertos numa ousadia reveladora. Ousar oferecer o coração de alguém que morre, para continuar vivo, bombeando o sangue vital a quem estava condenado. Um mistério. De ousadias e vitórias. O transplante vitorioso ainda ansia pela mágica transformação de idéias em corações generosos...Como diria o poeta, esse ano ainda não terminou.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Alôôôôôuuuuu!!!

A facilidade das comunicações também traz um complicador. Agora ficou fácil, todo mundo compreende que é só apertar um botão e conecta-se com o mundo. Toodo o mundo tem um celular. E, a partir daí, acabou-se a privacidade. Encontra-se qualquer um em qualquer lugar que esteja. Acabou-se a limitação física do espaço para conversa. E mesmo que não se queira, que se diga claramente, que se explicite pública e reservadamente. Nada, nada mesmo adianta. E quando se imagina que a deselegância é própria de quem não freqüentou escola, constata-se que não é nada disso. Ao contrário até. A deselegância é prima-irmã de escolarizados, pois os que passaram anos e anos nos bancos escolares acabam se considerando superiores. Clara demonstração de deselegância superior.

Crazy People

Aí pelos anos '80 do século passado surgiu um filme significativo, com uma base numa clínica de desajustados mentais, demonstrando que um estúpido cidadão (no sentido de ter uma deficiência mental considerada leve, uma debilidade) pode ter a ensinar mais coisas do que seu estado físico faz supor. Quando entra em cena, nada mais diz além de Helo! Somente isto: Helo, Helo, Helo. Quando melhorou, o personagem se preparava para uma viagem de reencontro da família e mostrou o que levava na bagagem. Abriu a mala, e tudo que havia eram pedaços de papel em várias cores, todos com a inscrição: Helo. Ele queria dizer olá pra todo mundo. E levava sua preciosidade muito bem embalada, correspondendo ao que debilidade exigia: ser gentil com todo mundo.
O contraponto dessa gentileza é a grosseria que se observa dos que ligam a todo instante para perturbar. São pessoas que nada mais fazem, além de inflar o próprio ego demonstrando a enorme capacidade de azucrinar a vida dos outros. Ligam, ligam e ligam. Nada dizem. Ouvem alguns segundos e desligam. Acredito que, à moda do débil do filme, colecionem os alôs que as pessoas lhes dizem. Alô, alô, alô, alôôôôôuuuu...Que vidazinha besta!

Desconstrução em debate

Em épocas de eleições tende-se a pensar que o mundo tem solução. Aliás, pensa-se que está em construção. Tudo está por fazer. Isso é o que se depreende dos programas de governo apresentados pelos candidatos. São tantas as coisas que eles dizem que farão...Não há alternativa, imagina-se 'morar' nos planos deles, pois correspondem aos sonhos de todos, moradores ou não das cidades, estados, países, por eles desenhados. É uma beleza! Porém...(e sempre tem um porém, diria o poeta)... amanhece. Acorda-se dos sonhos. Clareia a mente e vislumbra-se um rascunho caricato do que se viu na noite anterior. E aí, não tem jeito. Não há figura humana que resista à determinação da mente que 'vê' claramente uma situação manhosamente preparada. A montagem feita pela equipe de marketing político não resiste à desestrutura emocional da imagem real que o candidato tem de si mesmo. A desconstrução é inevitável e fora de controle. Quando isso acontece num debate, tem-se a certeza da eficácia desse tipo de produto do marketing político, criado pelos americanos do norte nos idos dos anos '60 do século passado. Naquele inaugural debate na tevê americana, JK arrasou RN sem confrontar nenhuma proposta. O adversário foi batido pela presença cênica, pelo domínio do veículo, que provocou imediata empatia com o eleitor-telespectador. Dado o 'start' pelos irmãos nortistas, as colônias mundo afora se apressaram a copiar o modelito, hoje comum em qualquer campanha. A tal ponto que há ferrenha disputa entre emissoras para garantir datas para o primeiro ou para o último encontro que os candidatos terão, frente a frenta, cara a cara, arrostando-se publicamente, exibindo as vísceras, fazendo jorrar o sangue que alimenta a sanha da massa ignara...No primeiro debate, com muitos candidatos, dilui-se a intenção declarada de uns e de outros. A dissimulação fala mais alto. Mas com tantos predadores juntos, não há salvação possível para todos. Sempre alguém leva a pior. Em geral, sobra para aquele candidato que está lá porque alguém mandou. Quer dizer, foi indicado, ficou encantado, fisgado...engoliu a isca. Acontece sempre com candidato inflado pela mídia. Que estufa o peito, 'se achando' e é engolido pela própria onda. Foi assim com a candidata 'boa de vídeo' e péssima de rua...A descontrução da 'barbie' deu-se na tela da tevê, que ela tão bem domina. Quando afrontada revelou conteúdo zero! Nada mais a fazer. Segundo turno, debate no domingo, 8 da noite, povão atento. Agora só dois. Olho no olho. Olho por olho. Mesmo de óculos, tem candidato que não se enxerga. E, à falta de conteúdo, a fatal desconstrução midiática. Aquilo que os americanos do norte tanto prezam: a tal estética de vídeo, que, não havendo, elimina o fator empatia com o eleitor-telespectador...

Algo de novo? Nada. É só o vento lá fora (também já disse o poeta).

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A Teacher's Day

I
'AO MESTRE COM CARINHO'
É O TÍTULO DE UM FILME QUE FEZ MUITO SUCESSO,
NO FINAL DOS ANOS '60, DO SÉCULO PASSADO.
ELE RETRATA AS AGRURAS DE UM PROFESSOR QUE DÁ A VOLTA POR CIMA,
RECUPERANDO ALUNOS ADOLESCENTES, QUE SE REBELAM SEM MOTIVO APARENTE.
ALGO COMO ACONTECE AINDA
NOS DIAS DE HOJE.
OS ADOLESCENTES CONTINUAM
REBELDES SEM CAUSA.
E OS PROFESSORES PERDEM
A PACIÊNCIA COM ELES.
AFINAL, A VIDA CONTINUA. E COMO TAL,
SEMPRE VAI PRECISAR DE PROFESSORES.
O QUE SERIA DA ORGANIZAÇÃO
SOCIAL HUMANA SE NÃO HOUVESSE
QUEM ENSINASSE O NECESSÁRIO
ÀS NOVAS GERAÇÕES??
ADOLESCENTES SEMPRE VÃO SURGIR.
E PROFESSORES SERÃO SEMPRE NECESSÁRIOS.

PODE SER QUE DOM PEDRO PRIMEIRO
TIVESSE PENSADO NISSO QUANDO
NAQUELE 15 DE OUTUBRO DE 1.827,
CRIOU O “DIA DO PROFESSOR” NO BRASIL.
MAS TAMBÉM PODE SER QUE, HÁ 181 ANOS,
DOM PEDRO TENHA PENSADO QUE
O PROFESSOR MERECE RESPEITO.
E QUE UM DECRETO IMPERIAL
SERIA CAPAZ DE PERPETUAR ESSE
MERECIMENTO.
MAS QUAL:
COM A PROCLAMAÇÃO
DA REPÚBLICA, SAIU DE CENA O QUE HAVIA
SIDO PRODUZIDO PELO IMPÉRIO.
TALVEZ POSSA ESTAR AÍ A EXPLICAÇÃO
PARA TAMANHO DESCASO COM
QUE OS PROFESSORES SÃO TRATADOS
NO BRASIL...A REPÚBLICA É UMA
COISA BOA. MAS HÁ COISAS PRODUZIDAS
PELO IMPÉRIO QUE TAMBÉM MERECEM RESPEITO.
O DIA DO PROFESSOR É UMA DELAS.
FELIZ DIA DO PROFESSOR
A TODOS QUE SE DEDICAM AO ENSINO...
II
Esse poderia ser um mote para a Presidência da República despertar desse estranho devaneio que é a disseminação da idéia de fazer apologia à falta de estudo. Pois é: se alguém semi-alfabetizado pode ser o presidente, pra que é que se vai preocupar com estudos? No começo, não atentei a essa particularidade de caráter do 'homem que veio do ABC', a quem se poderia dizer que faltaram as demais letras do alfabeto...

sábado, 11 de outubro de 2008

O jogo de bola

Futebol é Paixão.
Não se explica.
Pode chover, pode alagar, pode faltar ônibus,
eu tenho que ver o meu time...
O Estádio Olímpico do Pará faz jus ao nome:
é um mangue, um mangueirão...só água, por todo lado.
Em campo, duas equipes sofrem pela posse da bola,
que insiste em...empoçar...
A chuva cai implacável
os times lutam em desespero.
Emoção. É isso que leva a galera para o estádio.
Emoção. Esse é o sentimento que levanta a galera.
A chuva cai mais forte, um vento frio corta o estádio.
Mas o jogo é complicado, a bola não corre, caminha...
(sonhei um a zero)
A bola trisca a trave e a galera se agita, se agiganta...
Uma escapada, a bola chega ao atacante,
Marco Maciel recebe, toca pelo alto...GOOOOOOL
A galera vai ao delírio...Maciel, em sua primeira
partida contra o ex-time faz um a zero no Papão...
A chuva diminui, a galera se exalta.
Um helicóptero da PM sobrevoa o estádio,
Lenilson se adianta, a bola chega até ele que,
dribla um, dribla dois e chuta para o fundo das redes:
GOOOOOOOL
a galera vai ao delírio:
'ah! Eu tô malucô! Ah! Eu tô malucô!'
Dois a Zero.
O Leão 'tava caído mas não tá morto.
Mais dois sobrevôos do helicóptero da PM,
bola pra lá, bola pra cá,
bola pela lateral, bandeira dá Remo,
juiz (lateral é nosso!) dá Paysandu.
Jogador do Remo cai na área,
juiz 'tava longe, corre lá e mostra o Amarelo,
e ganha sonoro uuuuuuuuuuuu da galera.
A chuva diminui, o Leão escapa de um gol,

TERMINA O 1ºTEMPO
A chuva volta a cair mais forte,

COMEÇA O 2º TEMPO.

O helicóptero da PM voa mais baixo
por trás da arquibancada,
uma bola enfiada assusta a defesa do Remo,
mas o goleiro pega firme. A galera vibra:
'segura goleirão
é a defesa do Leão'
Outra galera responde:
'bi-color, bi-color, bi-color'
No placar, sai os 2 x 0
e entra público: 39 mil 189 pagantes,
bate-rebate, bola fora, bandeira dá pru Leão,
jogador chuta + longe, leva Amarelo...
(olhando daqui da cabine,
contra a luz dos refletores,
a chuva é um belo cenário)
úúúúúúúúúúúúú
é a galera do Paysandu
uivando por uma bola que passa raspando o travessão do Leão,
bate-rebate, cai um jogador,
os maqueiros correm daqui pra lá e de lá pra cá,
um tem capa e capuz, outro nem capa,
e a chuva cai + forte agora.
Num avanço do Leão, a bola escapa, vai pru Papão,
rebote na área, e GOOOOOOOL
Zé Augusto faz 1 pru Papão,
a arquibancada balança,
estamos debaixo da arquibancada bicolor
úúúúúúúúúúúúúúú
agora é a torcida azulina...
quase o Leão amplia.
Bola vai, bola vem, bola empoça...
o gramado está impraticável.
Ataque bicolor, jogador livro,
defesa tira-lhe o pão da boca: escanteio,
bola na área, bate-rebate, goleirão tira com os pés...
a galera azulina se alivia ôôôôôôôôô...
ataque bicolor. Falta batida, repique na área, fora...
Adriano dá uma bronca na zaga.
A chuva diminui. Não pára. O vento é frio.
Dentro de campo o clima é quente.
O Juiz 'acha' mais uma falta pru Papão, bola pra fora,

FIM DE JOGO

Uma enorme bandeira se abre na torcida azulina,
a galera vibra e não perdoa:
ú-ú-ú Paysandu vai tomar (no ..) caju.
Policiais entram em campo e os jogadores do
Remo não saem...A galera delira.
Adriano desabafa: 'os humilhados serão exaltados'.
Acabou a invencibilidade de Papão
créu, créu, créu,
é a galera azulina (gozando a bicolor)
saindo do Mangueirão.
Nos portões, churrasquinho, cerveja e cavalaria...
gente, gente, gente...
a saída do estádio é uma lástima.
Que o povo gosta de futebol
não resta nenhuma dúvida.
Que os times rendem +
quando se trata de clássico,
também é coisa certa...
E que o torcedor é maltratado,
ah!, isso é.
Mas é movido pela Paixão,
pela Emoção,
pelo gosto do jogo de bola
e vai saltando os igarapés que se formam
no entorno do estádio até a rua,
onde vai enfrentar filas,
lama, ônibus lotado...
mas o que interessa é que o time venceu,
acabou o domingo
e tem mais jogo quarta-feira...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Agosto, há 63 anos

É sempre a mesma coisa: entra Agosto, vem à mente a maior demonstração do terrorismo de Estado, o cogumelo atômico duas vezes exibido num espaço de 72 horas: dia 6 de Agosto de 1945 em Hiroshima, dia 9, Nagasaki...Deve ser por isso que os responsáveis por esse abominável ato duas vezes praticado tenham tanto medo. Agora, só fazem disseminar esse medo. E aí, quando todos ficam amedrontados, eles se apresentam para vender segurança. E, então, as pessoas começam a construir grades para viver atrás delas...

domingo, 3 de agosto de 2008

O Felipe é massa!

As manhãs de Domingo voltaram a ser alegres...É o que dizem os amantes do automobilismo. Sim, do verdadeiro. Não do brinquedinho de gente grande. Mas da alma competitiva, da ousadia, da técnica, da habilidade e, sobretudo, da raça. Isso mesmo, raça! No sentido da fibra necessária para enfrentar o desafio por inteiro. Sem se conformar com o plano razoável de concluir a corrida. Não. Aquele espírito que morreu numa distante manhã de domingo, 1º de Maio de 1994. E agora vemos ressuscitado na manhã de 3 de Agosto de 2008. Aquele foi Senna. Este é Massa! Aquele, a perfeição. Este, uma promessa. Mas uma promessa massa. Foi o que ele mostrou na corrida da Hungria. 3º lugar no grid, antes da 1ª curva já era o 2º e, ao final da curva, o 1º. Deixou pra trás as super-máquinas da McLaren e liderou a prova enquanto o equipamento permitiu. Mostrou técnica, habilidade, arrojo, competência, ousadia e muita beleza. A dupla ultrapassagem na largada é coisa pra ser vista e revista muita vezes. Será, certamente, assunto por muito tempo entre a equipe e os aficionados da Ferrari, e também entre os adversários. Uma aula. Um exemplo. Definitivo. O fato de o motor ter pifado a 3 voltas do final, foi lamentável do ponto de vista do anseio contido por um desenlace não desejado, mas absolutamente possível, vez que a máquina sempre pode quebrar. Mas essa corrida será comentada por muito tempo, ainda que nem se lembre quem foi que a venceu. Todo mundo vai falar da espetacular largada e da competência do Massa.

A Perfect Day

Foi pequena a pressão sentida na primeira vez que ouvi a voz rouca de Lou Reed entoando “I wish you a perfect day...”. Afinal, éramos jovens, e o que é que tem demais ter um dia perfeito?, pois os consideramos todos eles (os dias) perfeitos, quando jovens. Pois somos jovens, ousados, livres, arrogantes e, sobretudo, tolos, como convém à juventude. O mundo nos pertence. Foi por isso que Cara (nome estranho esse) não deu atenção à mãe, que lhe pedia para ficar em casa, no instante mesmo em que ela se preparava para sair. Nenhuma das duas sabia que era um último adeus. Se soubessem, teria tido afeto no coração da garota e lágrimas nos olhos da mãe. Ao contrário, a frieza. A mãe ameaçava acionar a polícia para impedir a partida brusca, ao mesmo tempo em que Cara se apressava a acomodar na mochila tudo o que imaginava precisar no tempo em que ficaria fora. Mas a viagem, como a vida, não é precisa. 'Navegar é preciso', disse o poeta, pois a arte da navegação tem regras precisas. Não a vida. Esta, de verdade, só depende da precisão de ser vivida. E assim, com 17 anos e um par de chuteiras, Cara saiu de Londres para viver no Brasil o sonho de ser jogadora de futebol. Queria ser brasileira. Odiava os dias garoentos e a neblina londrina. Ao contrário de muita alma colonizada daqui que aspira dias de neblina, neve e...sem o saber, de muita solidão. Cara não. Já visitara o país e desejava dias de sol, de alegria, de campos de futebol, enfim, dias perfeitos...Mas, dizia outro poeta, 'a perfeição é uma meta, defendida pelo goleiro'...E como apenas um defende enquanto onze atacam, volta e meia a casa cai...Cara não contava com isso. Nem a amiga que deixou pra trás e que com ela conversava diariamente pela rede mundial. A amiga estranhou a ausência de contato por 72 horas. Ficou intrigada. E teve um sobressalto quando viu a tatuagem original de Cara num pedaço de corpo humano que a polícia encontrou na periferia de uma cidade goiana. Foi a amiga, lá de Londres, quem deu o alerta. E a polícia brasileira encontrou outros pedaços. Achou ainda o assassino. Também jovem. Igualmente ousado, arrogante e com o agravante da perversão. A ponto de matar a garota que atraiu para sua casa e, em seguida, sair para a balada, não antes de fotografar o cadáver. Depois retalhou o corpo e espalhou os pedaços. Planejou fazer tudo perfeito. Só não contava com a perfeição da amizade que, mesmo distante, foi suficiente para o alerta que acelerou o coração da mãe que chora agora por não ter atravessado a rua para impedir, ainda que pela força, o desejo incontrolável de Cara...Essa mãe sabe que jamais voltará a ter dias perfeitos. Mas a amiga, certamente, nos londrinos, frios e tediosos dias, terá razões de sobra para encontrar a perfeição em mínimos e tolos detalhes. Lou Reed tem razão.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Transplante movido a álcool

Seria cômico se não fosse trágico considerar inapropriada a lei seca nas estradas por dificultar a realização de transplantes de órgãos a milhares, senão milhões, de angustiados brasileiros que expõem seu sofrimento nas filas de hospitais à espera do rim, do coração, do fígado salvador, da córnea que lhe garantirá a visão etc. Pois é o que está acontecendo. As estatísticas indicam também que, com o dinheiro poupado em gastos públicos com os acidentes no caótico trânsito das cidades brasileiras, será possível a construção anual de um novo e moderno hospital a cada ano, com capacidade para duzentos (200!) leitos... Na contramão da lei seca que, indicam os dados já apurados, reduziu pela metade as vítimas fatais de acidentes automobilísticos, também sofreram queda semelhante os números de transplantes realizados nos hospitais do Rio de Janeiro. Quer dizer, com a redução das mortes nas estradas, aumentam, em igual proporção, as mortes nos hospitais, entre os pacientes que esperam na fila de transplantes vitais...
Estranho país, o Brasil, que não consegue associar à lei seca salvadora uma campanha igualmente conscientizadora de doação de órgãos, que pusesse fim à simbiose macabra da dependência da vida em relação direta da morte violenta provocada pelo excesso de álcool. Diretamente ligado ao fato real da escassez de órgãos à disposição, aparece a figura do oportunista, o atravessador, que negocia a peso de ouro a oportunidade de alguém ganhar a vez no tenebroso caminho que leva ao transplante. Assim, foi flagrado pela Polícia Federal um desses privilegiados atravessadores. Nenhum gatuno de morro, não. Nenhum cambista de esquina, não. Mas, sim, um graúdo e pomposo chefe da equipe de transplantes hepáticos do hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É preciso que se diga o nome desse solerte ex-coordenador do Rio Transplantes, do governo carioca, Joaquim Ribeiro Filho...esse filho vendia lugares na fila de transplantes de fígado no Rio. Foi preso em casa. Própria, não da mãe. O filho foi pêgo na operação Fura-Fila da Polícia Federal. Esse filho, que é médico, mas que certamente ignora o juramento de Hipócrates, desviava fígados humanos para pacientes que furavam a fila mediante o pagamento de 250 mil reais (R$ 250.000,00).

O fígado da grana

Mas o bacana é que esse filho sacana dava ares de legalidade à tramóia. Para isso, utilizava seu poder de comando e inseria na fila do SUS pacientes-fantasmas, cujas fichas indicavam alguma incompatibilidade para receber o órgão que seria transplantado. Constatada a incompatibilidade do primeiro paciente na fila de espera, o médico era automaticamente autorizado pelo SUS a indicar quem seria o beneficiário. E, obviamente, o fígado seguia o caminho do dinheiro.
'Quando quiser descobrir o que realmente acontece, siga a trilha do dinheiro', ensinava --ao investigador interpretado por Jack Nicholson--, a filha do picareta Noah no filme 'Chinatown'. A filha contracenava com o pai (Angelica Huston e John Huston), um magistral picareta que ganhava rios de dinheiro desviando água do serviço público e cobrando --como se dele fosse-- para fornecer aos plantadores de laranjas da Califórnia. Depois, se entupia de uísque com os amigos, que dirigiam pelos campos, destruindo plantações, num tempo em que Lei Seca era apenas uma coisa combatida por Elliot Ness e os Intocáveis. No Brasil, não tinha nem nascido quem viria a pensar em aplicar tal lei seca nas estradas brasileiras.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Bira, um brasileiro

Preste atenção ao morador de rua. Zele por ele. Se não puder, pelo menos não o maltrate. Nem o queira mal. Afinal, nunca se sabe qual deles poderá ser o seu chefe..., amanhã.
É comum dizer, ou ouvir dizer que o Brasil é um país de contrastes. Eles estão por toda parte: Seca no Nordeste, abundância de chuva no Sudeste; frio e gelo no Sul, caloraço no Norte; a maravilha das terras alagadas no Centro-Oeste e, também, na exuberante Ilha do Marajó; as praias da sensacional costa do Atlântico cobrindo do extremo Sul ao inexplorado Norte, e os rios com ondas que banham Belém e outras cidades do Pará, como não existem em nenhuma outra parte do mundo...Contrastes. Mas esses são visíveis, perceptíveis à sensação do contato visual. Também se pode perceber a gritante diferença entre a metrópole paulista, com sua pujança e traços futuristas, e as agruras de quem vive numa cidade ao lado de uma grande usina hidrelétrica do Norte e não tem luz elétrica em casa...Mas, tem uma coisa que é comum em toda parte: a brutal distância social provocada pela concentração de renda que põe prédio de luxo encravado em favela. Sim, porque mesmo em locais onde a favela já existia, a exigência da conurbação exagerada, que une cidade a cidade, vai explorando todo e qualquer espaço, de modo a evidenciar a arquitetura do contraste. E uma coisa é comum por onde quer que se ande por esse brasilzão: pedintes, mendigos, moradores de rua. Sim eles estão por toda parte. E não apenas nas periferias, mas cada vez mais perto de nossas casas...
Pois é. Nem sempre um morador de rua merece a pecha de preguiçoso. Isso é o que Bira ouvia constantemente. E, como não tinha o que comer, sentia muita fome. E as pessoas só diziam que era disso mesmo que ele gostava, de dormir. Mas ele deu a volta por cima. Longe de casa desde os 15 anos. Vivendo na rua nesse tempo todo, encontrou jeito de estudar pela internet. Sim, economizando um que dois reais por dia --ficando sem comer para poupar-- pagava pra navegar na internet, onde tomou conhecimento de um concurso do Banco do Brasil. Estudou. Do seu jeito: sem apostilas, sem professores, sem amigos, sem comentários. Estudou, estudou e estudou. Até que chegou o dia do concurso, e ele, Bira, morador de rua, aos 27 anos, foi parar nas páginas dos jornais. Mas não na seção policial. Na lista do aprovados num dos concursos mais concorridos deste País. O sonho de consumo de muuuita gente boa: Bira passou no concurso do Banco do Brasil. E, agora, sua vida começou a mudar. Vai assumir a vaga conquistada com esforço e merecimento. E, em breve, poderá ser o seu chefe. Cuide bem dele!

sábado, 26 de julho de 2008

Nada será como antes: sempre pode piorar

Há doze anos, o massacre de Eldorado do Carajás deixou um saldo terrível: 19 trabalhadores mortos e dezenas de feridos, alguns com seqüelas definitivas, que até levaram mais alguns à morte...Mas não foi tudo. O massacre continua a ecoar e a produzir fatos lamentáveis. Depois daquele traumático 17 de abril de 1996, o governo do Pará sancionou lei proibindo a promoção de policiais que estejam respondendo a processo na Justiça. Este é o caso dos PMs envolvidos no massacre. Apesar das condenações impostas, sobretudo aos comandantes da operação, ninguém está preso. Mas os processos estão abertos, o que mantém os PMs sob a lei que os impede de receber promoções. Acontece que um juiz de Belém não entende assim, e deu ganho de causa a uma ação movida por dez policiais militares que requerem promoção na capital paraense. O juiz, nada mais, nada menos, considerou inconstitucional a lei estadual que impede a promoção dos participantes do fatídico massacre.
O confronto ocorreu quando 1.500 sem-terra que estavam acampados na fazenda Macaxeira, no município de Eldorado do Carajás, decidiram fazer uma marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras improdutivas. A Polícia Militar foi encarregada de tirá-los do local, porque estariam obstruindo a rodovia PA-150, que liga Belém ao Sul do Estado.
De acordo com os sem-terra ouvidos pela imprensa na época, os policiais chegaram ao local jogando bombas de gás lacrimogêneo. Os sem-terra revidaram com paus e pedras. A polícia, então, partiu para uma ação mais violenta e atirou. Dezenove pessoas morreram na hora, outras duas morreram anos depois, vítimas das seqüelas, e outras sessenta e sete ficaram feridas.
Pois é: o juiz considera inconstitucional o fato de os policiais ficarem sem promoção enquanto o processo não tiver sentença definitiva, mas ninguém considera que fere a Constituição o fato de vários dos feridos no massacre continuarem, ainda hoje, sem atendimento médico adequado. Tem até quem esteja com bala fixada no corpo, sem condições de se tratar por conta própria, e sem que o governo responsável pela ação dos militares, lhes garanta o mínimo respeito devido ao ser humano.
Lembro bem da cara desconsolada do então governador Almir Gabriel, no dia do massacre. Ele balbuciava que o coronel Pantoja extrapolara de suas funções de comando para executar o massacre. Pantoja chegou a ser preso, e foi condenado...Mas foi tudo anulado. Também o governo elaborou a lei, para impedir a promoção dos PMs, agora revogada...É o Pará. Terra de direitos...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Providência? Providencie ajuda...

Um nome pode definir tudo. Providência, a partir de agora, define o medo. Isso mesmo, ou alguém pensa que é possível pensar em outra coisa depois de ter visto, ouvido, ou tomado conhecimento do massacre promovido por onze militares (do Exército) contra três jovens, do morro da Providência, Rio de Janeiro...Os três voltavam de um baile funk quando foram abordados pelos soldados que estão cuidando (ao arrepio do que diz a Constituição) da segurança local...Segurança? Foi o que os jovens, certamente, pensaram: estamos seguros, pois o Estado é responsável pela integridade de pessoas que estão sob seu domínio. Ledo engano. Dizendo-se desacatados (quem pode contestar?) os soldadinhos resolveram brincar com os rapazes e os entregaram à sanha de marginais do morro vizinho. Isso eles dizem. Sim, porque a mãe de um dos jovens chegou a ver o filho num xadrez do Exército, todo ensangüentado e praticamente inerte, depois de um 'corretivo'. Bem, fosse pelo que fosse, quem poderia imaginar que os integrantes do 'glorioso Exército de Caxias' trabalhassem em conluio com marginais? Em que mundo pensamos estar? Soldadinhos são os donos do pedaço. É assim que alguns deles 'se acham'. E assim agem. A mãe nunca mais viu o filho vivo. Os rapazes foram encontrados num lixão, alguns dias depois, com dezenas de perfurações a bala. Como foram parar lá? Desde quando coletores de lixo recolhem cadáveres nas ruas e jogam no lixão? Quando se ouviu dizer que um caminhão do Exército, circula impunemente em área de marginais e de tráfico de drogas, sem que os soldadinhos sofram um arranhão sequer? Só se eles fizerem parte do esquema...Pois foi isso que eles alegaram para tirar o corpo fora do hediondo crime. Quer dizer, pra fugir da terrível pecha de assassinos dos jovens, preferiram dizer que 'entregaram' os rapazes aos marginais para que lhes desses 'um susto'. Mas que desfaçatez. O jornalista Jânio de Freitas vai mais além em sua coluna, lembrando que os soldadinhos arranjaram testemunhas que confirmam a historinha que eles contaram. E destacou um detalhe: os depoimentos são idênticos, e falam até que os rapazes estavam bem apresentáveis...Mas como?, pergunta o colunista, que alguém pode estar apresentável depois de ter sido massacrado num xadrez de quartel?? E agora perguntamos nós: que desacato praticaram os rapazes contra os soldadinhos para merecer tal sorte? Qual é a punição para quem pratica tamanho desacato contra a população indefesa? Devemos clamar à Providência???
Motivo fútil ou inexplicado...Também foi o provocador de outra tragédia: uma garota matou outra com duas facadas, dentro da sala de aula de uma escola no conjunto Providência, periferia de Belém do Pará...Aos 16 anos, a garota teria 'desacatado' a de 18, falando mal do cabelo dela...De 'desacato' em desacato, a Providência vai definindo o perfil do medo que assola os viventes desses tristes trópicos...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A morte inspirada e revivida na tevê

'Here, there and everywhere' era apenas o título de uma canção dos Beatles, jovem e inocente conjunto de rock que revolucionou a Inglaterra, e o planeta, no início dos anos '60 do século passado ('To live a better life, I need my love to be here' é uma baladinha que embalou muitos casais nos, então famosos, bailinhos de formatura). 'Here, there & everywhere', ou, 'Aqui, ali e em qualquer lugar', agora, são outra coisa. É a presença massificada de câmeras de todos os tipos, aqui, ali e em todos os lugares...Sim, a presença maciça da tevê, seja em câmera tradicional, de vídeo, digital, celular, na praça, na esquina, no computador, em casa, no trabalho...o Big Brother previsto por George Orwell, escritor inglês na primeira metade do século passado, é uma presença real no cotidiano do ser humano hoje. Pra se ter uma idéia, Londres tem uma câmera para cada 14 pessoas que circulam pela capital britânica...É o controle total. No Guarujá, litoral Sul paulista, há câmeras na praia, controlando o movimento de banhistas, motoristas, ambulantes, siris, sereias...Na rodovia Castello Branco, que liga São Paulo ao Paraná, as câmeras estão ao longo da pista (em que foi flagrado o determinado motorista que, em certo momento, decidiu dar meia-volta e dirigir 4 km na contramão até encontrar a morte no parachoque de uma carreta que não conseguiu desviar). E captam tudo, instaladas a cada dois quilômetros, de modo a controlar todo o movimento dos motoristas, mesmo quando no interior de seus veículos. Esse verdadeiro Big Brother invade escolas, onde já há denúncias de exposição de intimidades pela rede mundial, flagradas em banheiros escolares (o controle das escolas não vê limites à privacidade...e é nas escolas!). O outro Big Brother, o de mentirinha, não atinge ninguém. É na tevê, e pela tevê. Somente os voyers entendem. E se entendem.

Câmera muda o cenário

Quando é de verdade, uma câmera altera completamente o ambiente. Lembro de várias situações em que isso aconteceu. A mais mais que me vem à memória é aquela vivida por uma equipe do SBT de São Paulo, nos tempos do 'Aqui Agora' quando uma adolescente ameaçava se jogar do alto de um prédio de 11 andares, e já estava quase se rendendo à negociação, mas, repentinamente tomou a decisão, ante a espetacularização da presença de uma equipe de reportagem com a fantástica lente da câmera apontada para cima e a chusma gritando 'pu-la, pu-la'. A garota pulou. A emissora enfrentou um processo que durou alguns anos, ao final dos quais teve que pagar um milhão de reais de indenização à família, tendo sido responsabilizada pelo gesto desesperado da garota, por ter montado o show que a atraiu.
Com os olhos bem abertos, estão todos atentos aos movimentos da televisão quando mostra pai e madrasta desesperados querendo sair de casa pra ir até a delegacia depor no inquérito em que são acusados de terem promovido a morte da pequena Isabela, de apenas 5 anos...O processo está correndo. Mas a
população já quer a condenação dos dois. A tevê mostra à exaustão as cenas em que as provas são colhidas, em que o casal caminha, em que o comentarista opina, em que o delegado fala, em que o promotor fala...incrível, eles também não podem ver uma câmera que já querem abrir o bico. Então, essa de dizer que a tevê provoca a população, nada mais é do que a televisão repercutindo o que tem mesmo que repercutir. Afinal, a autoridade fala, a tevê tem que dar. Se está exagerando, é outra questão. E é uma questão que merece reflexão, sim. Porque a exposição da tevê pode estimular espíritos menos elevados a querer se mirar no espelho da telinha para ganhar notoriedade...Senão vejamos: a cada vez que a tevê se empenha numa cobertura exaustiva de um caso, pode-se perceber uma espécie de reverberação que revela casos semelhantes sendo noticiados em diferentes lugares...Em Belém do Pará, assim que o caso Isabela se instalou incessantemente no vídeo, foi resgatado um caso muito parecido, de 5 anos atrás, da garota Jéssica, de 6 anos, igualmente atirada do sexto andar de um edifício. O principal suspeito (nunca condenado), é um irmão de criação da garotinha, que alimentava ciúme doentio por causa dos cuidados que a mãe dispensava a Jéssica...Agora, em pleno momento em que a polícia de Sampaulo está para anunciar a prisão do casal incriminado na morte de Isabela (com imagens na tevê das quais ninguém consegue escapar), um crime hediondo, de características similares, abala os paraenses: um padrasto mata (por esganamento), o garoto Yuri, de 11 anos. O motivo?, a mãe do menino havia expulsado de casa o padrasto explorador e ele decidiu, então, se vingar da ex-mulher matando o filho dela. Teria matado também o irmão de Yuri, de 8 anos. Este escapou da morte porque faltou à escola, onde o padrasto apanhou Yuri, sob a falsa alegação de que o levaria para a mãe, Andréa. Em vez disso, levou o menino para um barraco previamente alugado e o esganou com a corda do punho de uma rede. Preso, logo em seguida, na cidade de Ananindeua, região metropolitana de Belém, Edvaldo não só confessou o crime como acrescentou que o fez com gosto, para se vingar da ex-mulher que o expulsou de casa por estar cansada de sustentá-lo...Edvaldo foi parar na tevê, onde inventou uma historinha, dizendo-se arrependido, e que teria praticado o crime a mando da mãe...A intenção, certamente, é prolongar a exposição televisiva...O caso do psicopata que assassinou o garoto Pethrus, de 4 anos, em Bragança, é diferente. Ele já havia sido preso há 10 anos, acusado de abusar sexualmente e matar, em seguida, um garota de 12 anos. Ex-oficial de justiça, estava em liberdade e era amigo da família do garoto assassinado que, segundo as primeiras informações, sofreu abuso.Também este, diante da tevê, disse ser inocente...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

12 anos esta manhã

Ao rever as imagens daquele fatídico 17 de abril de 1996 não pude conter a emoção que senti, naquele dia, vendo as imagens de Osvaldo Araújo, registradas com sua câmera apontada para a cena do crime. Estava no comando do telejornal da TV Liberal da hora do almoço quando chegaram as três fitas gravadas por ele em Eldorado do Carajás. A obrigação de gerar o material antes para a Rede Globo, no Rio, me fez esperar longos 20 minutos da primeira fita, enquanto rolava o jornal. Chamei o produtor, saí do Switcher, e fui conferir a Geração. Confirmei com o Rio e, sim, a primeira fita já estava liberada. Desci rapidamente as escadas. Ainda tínhamos entre 5 e 6 minutos até o final do jornal. Entreguei a fita ao Exibe e pedi que selecionassem pelo menos dois minutos com imagens do confronto pra serem mostradas com off do locutor em estúdio. Fita bruta. Recebi a confirmação de que havia mais de cinco minutos que poderiam ser mostrados em seqüência (sem imagens comprometedoras, como facões cortando cabeças, balas estraçalhando pessoas, essas coisas). Ok. Derrubei uma retranca de 2'30" e ordenei ao locutor que pegasse a nota (até então pelada) que abriu o jornal. Ele reclamou que iria repetir texto. Disse a ele que não. Bastava ler a linha de abertura: 'O MASSACRE DE ELDORADO DO CARAJAS'...Expliquei a ele que, a partir daí entrariam imagens no ar, e nem seria preciso dizer mais nada. Lá estavam, de um lado, os soldados armados com potência suficiente para conter um exército fortemente armado, e, do outro lado, homens, mulheres e crianças que corriam empunhando paus, foices, facões, desordenadamente. A corrida em direção aos soldados só se estabeleceu depois que uma rajada de metralhadora derrubou um manifestante que estava na linha de frente. Isso só se entende olhando as imagens uma segunda vez, pelo menos. A repórter da TV Liberal, Mariza Romão, estava de saída do local e voltava pra fazer um stand-up quando se deparou com a dantesca cena... Em depoimento, ontem, o sobrevivente do massacre, José Carlos Moreira (levou um tiro na sobrancelha e perdeu um olho) disse estranhar muito que, dentre os cerca de cinco mil manifestantes, os 19 mortos eram todos da equipe de liderança do MST. Fato estranhíssimo, que as armas e munição pesada não estavam com o esquadrão policial que, tecnicamente, negociava com os manifestantes. Todo armamento chegou num ônibus que ficou estrategicamente estacionado, com tudo à mão para municiar os soldados no momento determinado pelo comandante Pantoja.
Dos 155 militares presentes no teatro do massacre, 144 foram a julgamento, e dos que foram condenados, nenhum está preso. Já dentre as viúvas e mutilados no massacre, ninguém recebeu indenização. Sequer recebem tratamento médico adequado...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Matadores de crianças. O homem mata por prazer.

Qual o motivo que leva uma pessoa a desejar a morte de uma criança?
A criança incomoda? Interfere na relação? É uma nova relação e a criança é de outra e traz imagens ruins?
A situação está acontecendo na novela das 8. A nova namorada do pai da criança vê instabilidade na relação a cada vez que o pai e a mãe se vêem, em circunstâncias em que é necessária a presença dos dois a propósito de um encontro com a criança. A namorada fica irritada e, até, arquiteta a morte da criança...Num gesto supremo, de ação inusitada, a criança escapa. É novela.
Na vida real: uma menina de 5 anos passa o final de semana com o pai. Também estão juntos a madrasta e os dois filhos desse novo relacionamento do pai. A mãe vive só. E permite que a filha passe o final de semana com o pai. Coisa natural: afinal, são todos muito unidos. Mas o final é trágico. É vida real.
Essa tragédia tem sido assunto diário no noticiário nacional e as pessoas comentam por toda parte: o pai é o culpado. É a madrasta, dizem outras. Tudo leva a crer que seja esse mesmo o final. Ou um desses. Pelo menos, a trajetória das notícias parece indicar isso mesmo. Se é isso, o que teria levado a esse desastrado ato? Afinal, só pensando que foi um ato desastrado, para se imaginar que tenha sido praticado por um ser humano...E diretamente e intimamente ligado ao pequeno, inocente e alegre ser. Uma vida que se vai no seu desabrochar. Vidas incompletas de tantos quantos esperavam vê-la crescer, feliz com sua alegria possível. Com suas realizações possíveis. Com os amores, agora impossíveis. Que o dia o rosto da mãe na homenagem derradeira. A camiseta com a foto da 'estrelinha' estampada no peito...
O que leva um ser humano a matar outro ser humano?
O homem é o único no reino animal que mata por prazer, não por necessidade.

Carandiru, Candelária & Carajás: a volta do C.C.C.

CCC
o temido tríplice 'C'
dos anos de chumbo
identificava uma trupe aloprada
que se autodenominava
Comando de Caça aos Comunistas.
Cometiam as maiores barbáries contra
pessoas, jornais e bancas de revistas, que
eram incendiadas, sob a acusação de vender
revistas e/ou jornais ditos subversivos.
E deixavam a sinistra assinatura:
C.C.C.

Os tempos mudaram. Os anos de chumbo
servem de argumento para minisséries de tevê
e o sinistro tríplice 'C' está de volta.
Com roupagem nova,
mas aniquilando tão mortal e descaradamente
quanto o temido predecessor de triste lembrança.
Carandiru, Candelária, Carajás.
Esse é o nome do novo trio,
se considerarmos isoladamente
os fatos que os cercam. Senão vejamos:

C1.Carandiru,
1992. No maior presídio da
América Latina, como bem gosta o brasileiro,
de ter tudo maior, também teve
o maior massacre que se tem notícia.
Pessoas encarceradas,
desarmadas,
servindo de alvo à prática de tiro
indiscriminado de sedentos policiais brutalizados,
acompanhados de cães que despedaçavam
os corpos dos que fugiam da balaceira.
Oficialmente: 111 mortos.
Nos depoimentos de sobreviventes
(um deles ainda resiste vendendo água num
cruzamento de grande movimento em
Sampaulo),
mais de trezentos...

C2.Candelária,
1993. Onze garotos chacinados por
sedentos policiais irritados porque os garotos,
que dormiam à porta de uma igreja (da Candelária),
haviam testemunhado ações violentas dos PMs,
espancando cidadãos...
Imagine a cena: na calada da noite,
meio da madrugada, crianças espalhadas
pela calçada, dormindo, em situação de
extrema penúria. Chega uma equipe
de policiais, bem vestidos, coturnos altos
e armas, muitas armas, que despejam
munição nos frágeis corpos que
se despedaçam...
Nem todos morrem. Os que escaparam
da sanha assassina foram despachados
para fora do país, adotados por estrangeiros,
pois não poderiam ficar, ameaçados, marcados
para sempre.
Um dos sobreviventes (que ficou no Brasil)
foi o triste protagonista
do pânico dentro do ônibus 174.
Desistiu, se entregou, e foi morto
no carro de polícia em que estava preso.
O drama dentro do drama.

C3.Carajás,
1996. Curva do 'S' da estrada PA 150,
Eldorado de Carajás.
Centenas de trabalhadores sem-terra
interditam a pista pedindo a desapropriação
de terras inativas...O governador Almir Gabriel
liga para o coronel Pantoja
e diz pra desimpedir a pista.
O coronel não tem dúvidas: convoca seu esquadrão,
que empunha pesadas armas com grande potencial
de tiros, e parte pra cima dos homens,
mulheres (e até crianças), que empunham
paus e foices...A cena lembra um exército
brancaleone contra guerreiros do futuro.
A repórter Mariza Romão estava lá.
Já estava de saída e voltou pra fazer um stand-up
quando se deparou com a dantesca cena.
O cinegrafista nem se posicionou. Apenas apontou
a câmera, e começou a gravar as imagens que
ficaram registradas na memória de
quem as viu.
Ao final, 19 mortos e dezenas de mutilados.
Há depoimentos de gente que viu caminhonetes
da polícia retirando corpos do local
que nunca mais foram vistos. Enfim, os dados
não são definitivos. O que se sabe é que
os autores da chacina estão soltos. E as
viúvas dos trabalhadores assassinados
nunca viram um tostão de indenização.
Carajás, Eldorado para quem?

domingo, 6 de abril de 2008

A Justiça falha quando tarda.
O velho adágio popular diz que "a Justiça tarda, mas não falha". Não sei onde foi que vi esse texto, mas me chamou a atenção essa mudança de atitude em relação à Justiça, com letra maiúscula, que cedo entendemos ser a razão maior da existência, vez que acertaria todas as contas, as vistas e a que estão por vir... Durma-se com um barulho desses, pois, a Justiça, em tardando, certamente muito mal já provocou...É o que vimos nos nossos tristes dias. Veja-se, por exemplo, a juíza encarregada de observar a aplicação da Justiça numa comarca do interior paraense, em Abaetetuba, onde uma garota (adolescente, pré-adolescente, jovem, quase jovem???) foi parar numa cela, enjaulada com vinte marmanjos que dela fizeram uso, abusaram etc e tal...E a tal juíza, que deveria ser a guardiã da Justiça, diz que não sabia de nada. Pior, quando assumiu saber, disse que não era com ela...E o pessoal (aqueles, supremos, escolhidos a dedo, organizadinhos em reduto fechado, muito bem pagos, muito bem acolhidos, muito bem resguardados, muuuito bem protegidos) que faz parte do grupo da juízazinha, tira o corpo fora, e vota apoiando a atitude sem atitude da juizazinha, que estando lá, no local onde tudo aconteceu, diz não saber de nada, que não viu nada, nem mesmo quando (diz) visitou o tal local...Nuuunca viu uma só cela em que estivesse uma mulher com homem...Também disse nunca ter ouvido falar de algum lugar no Pará em que tal infâmia (!) tivesse acontecido...Uau!, que mundo fantástico dese ser esse dessa juizazinha. Ela é funcionária pública. Isto é: paga pelo público. O público somos nós, cara pálida. Sabia disso? Pois é, nós: eu, tu, ele, nós, vós, eles. Não eles, do Poder Judiciário. Eles estão à parte. Sequer sabem do que acontece por aqui. Mesmo quando são os responsáveis por saber. Fazem de conta que sabem, e vão tocando as vidinhas deles. Medíocres. Bem pagas, sim, por nós. Mas, medíocres. E, pior, fazendo mediocremente seus trabalhos. Aliás, trabalhinhos....Que nunca, nunca, mesmo, ninguém vai saber do que se trata. Até que aconteça uma barbárie, como essa que se viu em Abaetetuba. E, aí, espera-se uma manifestação fulminante, daquelas que se vê em filmes, com um juiz utilizando seu poder (dado pelo povo, vez que é dele representante), e dirigindo sua sentença massacrante. Mas, nada. Pífia atuação. Traque junino em dia de chuva, pfiuuuuu. E, então, a cena muda de local. Não está mais numa cidadezinha do interior. Está na Capital. Está no plenário da Corte máxima. E a população, em êxtase, diz: agora sim. Agora seremos vingados. Agora veremos justiça. E o que se vê: uma cortezinha acovardada, manifestando o vulgarmente conhecido ´espírito de corpo´, fazendo coro com a incompetência, votando em favor da mediocridade. Aliviando o peso da sobrepeliz emplumada que sombreia os votos encobertos dos pobres pares. Pobres no sentido da falta de atitude, de altivez, de Justiça. de prestação de serviço público, alinhando-se com a pobreza de determinação de quem deveria, sim, exercer soberbamente o poder que lhe foi conferido. Mas, preferiu acovardar-se, escondendo-se sob esse infame manto que tudo esconde. Esconde, sobretudo, uma casta infeliz. Rica nos rendimentos, nos prazeres, nos lucros, na própria soberba, garantida pelos inertes pares. Mas, infeliz, vez que totalmente divorciada da vocação da Justiça que se propõe identificada com o povo. Ainda mais se se refletir sobre a posição do ´venerável´ desembargador que virou as costas a quem recriminou a atitude do Tribunal...E, note-se, quem fez a crítica é ninguém menos que uma advogada, presidente da Ordem dos Advogados do Pará...Já imaginou se fosse simplesmente um ser do povo? Esse mesmo, que garante os salários dos magistrados???