terça-feira, 4 de agosto de 2009

In (God...money?) we trust

"Dólar, yê, yê, yê, dólar, yê, yê, yê, dólar, yê, yê, yê, dólar..."
O refrão da debochada canção de Tom Zé, nos anos ´70 do século passado, dá bem o tom do que é o objetivo maior da classe média, emergente ou não, naqueles conturbados anos de ditadura militar, logo depois dos inesquecíveis ´60, de revolta estudantil, beatniks, revolução de costumes, feminismo, liberalismo sexual, o niilismo de Sartre ou o racionalismo de Camus...A discussão fervia. As mesas de bar nunca mais foram as mesmas...Até porque toda uma geração foi ceifada na base. Quem ousasse pensar era eliminado.
Por isso, a debochada canção de Tom Zé teve inspiração na própria nota de dólar, em que há a inscrição "In God we trust", mas que, em verdade, a crença ou confiança expressa pela classe média é mesmo nas verdinhas, as imutáveis notas verdes de dólar de qualquer valor expresso. Muda somente a foto dos presidentes. Cada qual com seu valor. Afinal, a sociedade capitalista sabe melhor que ninguém a quem atribuir o valor que mereça...Aos órfãos (viúvas?), cabe apenas imitar. Razão pela qual o frustrado Plano Cruzado (de triste memória do governo Sarney -1985/1989- com inflação passando da casa dos 5 mil por cento) cunhou nova moeda, de nome Cruzado, com a inscrição cópia (plágio?) da norte-americana "Deus seja Louvado". Inscrição essa que o ´príncipe´ FHC (então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco) manteve na novel moeda nacional, o Real, onde se pode ler até hoje "Deus seja Louvado".
Até aí, o mesmo Deus pode ser figura de destaque às variadas tendências (modismos?) religiosas. Desde que cristãs, podem ser católicas, protestantes, ortodoxas, muçulmanas e, até, por que não dizer, judáicas. Afinal o judaísmo acredita num Deus. E quem são os maiores banqueiros do mundo? Pois é, existe também o deus-mercado... Esse, não há governante que queira dele ficar distante. Mesmo que seja necessário declarar insuspeitada fé de um agnóstico (ateu?) assumido, que chegou a perder a eleição à Prefeitura de Sampaulo por ter vacilado diante da pergunta do mediador em debate pré-eleitoral: "Candidato Fernando Henrique, o senhor acredita em Deus?", disparou Boris Casoy a uma empertigada figura que começou a se mexer na cadeira, expondo o incômodo da pergunta, para, quase balbuciando, responder em seguida: "Boris, nós combinamos que você não faria essa pergunta". Gargalhada geral na platéia...E derrocada nas urnas.
Pois é, na presidência desse mesmo FHC que o Brasil estabeleceu o ensino religioso nas escolas do nível fundamental. Recentemente, o governo Lula (de quem se temia governo radical de esquerda) firmou acordo com o Estado do Vaticano privilegiando abertamente a crença católica sobre as demais. Embora tal decisão possa ser rejeitada pela Câmara dos Deputados, a coisa vai mal, pois a Constituição Brasileira, em seu Artigo 5º ("Todos são iguais perante a lei...") VI - "É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias".
A propósito disso, há leitores enviando cartas a jornais alegando ser inconcebível que, num estado laico, haja crucifixos em repartições públicas, como em salas legislativas e de tribunais, por exemplo...In (...$$$) we trust???

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