sexta-feira, 11 de abril de 2008

Carandiru, Candelária & Carajás: a volta do C.C.C.

CCC
o temido tríplice 'C'
dos anos de chumbo
identificava uma trupe aloprada
que se autodenominava
Comando de Caça aos Comunistas.
Cometiam as maiores barbáries contra
pessoas, jornais e bancas de revistas, que
eram incendiadas, sob a acusação de vender
revistas e/ou jornais ditos subversivos.
E deixavam a sinistra assinatura:
C.C.C.

Os tempos mudaram. Os anos de chumbo
servem de argumento para minisséries de tevê
e o sinistro tríplice 'C' está de volta.
Com roupagem nova,
mas aniquilando tão mortal e descaradamente
quanto o temido predecessor de triste lembrança.
Carandiru, Candelária, Carajás.
Esse é o nome do novo trio,
se considerarmos isoladamente
os fatos que os cercam. Senão vejamos:

C1.Carandiru,
1992. No maior presídio da
América Latina, como bem gosta o brasileiro,
de ter tudo maior, também teve
o maior massacre que se tem notícia.
Pessoas encarceradas,
desarmadas,
servindo de alvo à prática de tiro
indiscriminado de sedentos policiais brutalizados,
acompanhados de cães que despedaçavam
os corpos dos que fugiam da balaceira.
Oficialmente: 111 mortos.
Nos depoimentos de sobreviventes
(um deles ainda resiste vendendo água num
cruzamento de grande movimento em
Sampaulo),
mais de trezentos...

C2.Candelária,
1993. Onze garotos chacinados por
sedentos policiais irritados porque os garotos,
que dormiam à porta de uma igreja (da Candelária),
haviam testemunhado ações violentas dos PMs,
espancando cidadãos...
Imagine a cena: na calada da noite,
meio da madrugada, crianças espalhadas
pela calçada, dormindo, em situação de
extrema penúria. Chega uma equipe
de policiais, bem vestidos, coturnos altos
e armas, muitas armas, que despejam
munição nos frágeis corpos que
se despedaçam...
Nem todos morrem. Os que escaparam
da sanha assassina foram despachados
para fora do país, adotados por estrangeiros,
pois não poderiam ficar, ameaçados, marcados
para sempre.
Um dos sobreviventes (que ficou no Brasil)
foi o triste protagonista
do pânico dentro do ônibus 174.
Desistiu, se entregou, e foi morto
no carro de polícia em que estava preso.
O drama dentro do drama.

C3.Carajás,
1996. Curva do 'S' da estrada PA 150,
Eldorado de Carajás.
Centenas de trabalhadores sem-terra
interditam a pista pedindo a desapropriação
de terras inativas...O governador Almir Gabriel
liga para o coronel Pantoja
e diz pra desimpedir a pista.
O coronel não tem dúvidas: convoca seu esquadrão,
que empunha pesadas armas com grande potencial
de tiros, e parte pra cima dos homens,
mulheres (e até crianças), que empunham
paus e foices...A cena lembra um exército
brancaleone contra guerreiros do futuro.
A repórter Mariza Romão estava lá.
Já estava de saída e voltou pra fazer um stand-up
quando se deparou com a dantesca cena.
O cinegrafista nem se posicionou. Apenas apontou
a câmera, e começou a gravar as imagens que
ficaram registradas na memória de
quem as viu.
Ao final, 19 mortos e dezenas de mutilados.
Há depoimentos de gente que viu caminhonetes
da polícia retirando corpos do local
que nunca mais foram vistos. Enfim, os dados
não são definitivos. O que se sabe é que
os autores da chacina estão soltos. E as
viúvas dos trabalhadores assassinados
nunca viram um tostão de indenização.
Carajás, Eldorado para quem?

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