quinta-feira, 17 de abril de 2008

12 anos esta manhã

Ao rever as imagens daquele fatídico 17 de abril de 1996 não pude conter a emoção que senti, naquele dia, vendo as imagens de Osvaldo Araújo, registradas com sua câmera apontada para a cena do crime. Estava no comando do telejornal da TV Liberal da hora do almoço quando chegaram as três fitas gravadas por ele em Eldorado do Carajás. A obrigação de gerar o material antes para a Rede Globo, no Rio, me fez esperar longos 20 minutos da primeira fita, enquanto rolava o jornal. Chamei o produtor, saí do Switcher, e fui conferir a Geração. Confirmei com o Rio e, sim, a primeira fita já estava liberada. Desci rapidamente as escadas. Ainda tínhamos entre 5 e 6 minutos até o final do jornal. Entreguei a fita ao Exibe e pedi que selecionassem pelo menos dois minutos com imagens do confronto pra serem mostradas com off do locutor em estúdio. Fita bruta. Recebi a confirmação de que havia mais de cinco minutos que poderiam ser mostrados em seqüência (sem imagens comprometedoras, como facões cortando cabeças, balas estraçalhando pessoas, essas coisas). Ok. Derrubei uma retranca de 2'30" e ordenei ao locutor que pegasse a nota (até então pelada) que abriu o jornal. Ele reclamou que iria repetir texto. Disse a ele que não. Bastava ler a linha de abertura: 'O MASSACRE DE ELDORADO DO CARAJAS'...Expliquei a ele que, a partir daí entrariam imagens no ar, e nem seria preciso dizer mais nada. Lá estavam, de um lado, os soldados armados com potência suficiente para conter um exército fortemente armado, e, do outro lado, homens, mulheres e crianças que corriam empunhando paus, foices, facões, desordenadamente. A corrida em direção aos soldados só se estabeleceu depois que uma rajada de metralhadora derrubou um manifestante que estava na linha de frente. Isso só se entende olhando as imagens uma segunda vez, pelo menos. A repórter da TV Liberal, Mariza Romão, estava de saída do local e voltava pra fazer um stand-up quando se deparou com a dantesca cena... Em depoimento, ontem, o sobrevivente do massacre, José Carlos Moreira (levou um tiro na sobrancelha e perdeu um olho) disse estranhar muito que, dentre os cerca de cinco mil manifestantes, os 19 mortos eram todos da equipe de liderança do MST. Fato estranhíssimo, que as armas e munição pesada não estavam com o esquadrão policial que, tecnicamente, negociava com os manifestantes. Todo armamento chegou num ônibus que ficou estrategicamente estacionado, com tudo à mão para municiar os soldados no momento determinado pelo comandante Pantoja.
Dos 155 militares presentes no teatro do massacre, 144 foram a julgamento, e dos que foram condenados, nenhum está preso. Já dentre as viúvas e mutilados no massacre, ninguém recebeu indenização. Sequer recebem tratamento médico adequado...

Nenhum comentário: