sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Saúde americana na UTI comportamental

Foi preciso um presidente negro, francamente contestado por quem nele não votou, para que viesse à tona uma realidade longamente encoberta: o norte-americano comum não tem acesso a atendimento médico.
A proposta oferecida pelo chefe da Casa Branca é repudiada não somente no Congresso, como também pelo cidadão comum, que acabaria sendo beneficiário do sistema por ele proposto de atendimento médico adequado a todo e qualquer cidadão estadunidense.
A reforma proposta por Barack Obama, em cumprimento à proposta de campanha, pela qual todos os cidadãos seriam protegidos por um seguro-saúde básico, enfrenta forte resistência política e, também, entre a população, comprometendo, já, sua popularidade. Interessante que, tampouco Bill Clinton conseguiu levar avante seu plano de seguro-saúde para todos os cidadãos. Mas, parece, a questão não ganhou a dimensão alcançada agora, que divide o país. Vejam bem: a proposta é de um plano de seguro-saúde básico. Básico mesmo!, pois quem pode, paga o melhor; quem não pode, isto é, não tem nada, tem atendimento. Mas o classe média-média, o remediado, este não tem remédio. Se ficar doente tem que vender tudo o que tem (ou hipotecar) e tentar salvar a pele.
É preciso que fique muito claro: nem uma coisa capenga e desesperadoramente angustiante como o SUS brasileiro existe por lá. A realidadde vem à luz: aquela balela que nos enfiaram goela abaixo durante todo o período da guerra fria (extinta no final dos anos ´80 do século passado) sobre o que seria o maravilhoso "american way of life", com serviços médicos ao alcance de todos, veio à luz com a maior crise econômica após o ´crash´ da bolsa de Nova Iorque no começo dos anos ´30 do século 20. Não há como oferecer plano de saúde para todos porque os próprios norte-americanos não concordam em pagar por um serviço que será usufruído por outro. Vale dizer: o individualismo exacerbado pela sociedade mais competitiva do mundo forma cidadãos amesquinhados. Em artigo na "Folha de S.Paulo" (pág. E10, de 03.09.2009), Contardo Calligaris conta que ouviu de cidadãos norte-americanos a preocupação de que seguro-saúde universal "é coisa de país socialista ou comunista".
Quem diria: foi preciso um homem negro para o americano revelar, com todas as letras, esta realidade solar de seu comportamento individualista.

Nenhum comentário: