segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sean see Sun

Spielberg mostrou num filme - O Império do Sol - como a mente humana viaja olhando para o céu. Ou para o Sol. O garotinho, carente de tudo, olhava para o céu, na precisa hora do sobrevôo dos aviões norte-americanos que chegavam para reverter a situação, e exclamava: "cadilacs do céu...", num momento de êxtase, em que tudo o mais parecia ter pouca ou nenhuma significância. Pode-se pensar que é o mesmo que imaginar onde é que o Sol pode estar. Por aqui dizemos ´o´ norte. Meu norte está em tal ou qual lugar. Siga seu norte, costuma-se dizer às pessoas que, às vezes, parecem perdidas, sem rumo...Deve ser por isso mesmo que uma bússola sempre indique o Norte, o rumo que possibilite a percepção de onde se está.
Pois é, pensando nisso, imaginei que o pequeno Sean, objeto de disputa há dois mil dias - sem mãe, morta há mais ou menos 500 dias -, deve estar pensando na vida boa que poderá levar em New Jersey, a partir de agora, e nem mais se lembrar da boa vida que levava no Rio de Janeiro, até a véspera do Natal. Que data! O pai, David, disse que a família renasce com a chegada (realmente, a volta) de Sean. E Sean, que [ao caminhar com a família carioca] só fazia chorar, abriu um largo sorriso ao correr para abraçar o pai, de quem fora separado há mais de cinco anos...
Renascimento. Natal é nascimento. Mas, quando está de volta algo como uma vida que se perdeu, é renascimento. O pai está certo na afirmação. E deve ter tido o dedo do Pai, que o seu único filho deu ao mundo, cuja data é celebrada como Natal em todos os países, menos um...
Afinal, Sean vê Sol. Há um brilho no céu, no olhar das pessoas. Do pai, resgatando o filho que lhe foi arrancado do convívio. Acabou a choradeira. "Acabou chorare", diriam os Novos Baianos em exclusivíssima canção dos anos ´70 do século passado...
Na verdade, uma história como essa só acontece porque existe a burocracia. O império do gabinete, dos burocratas. Nada mais natural do que deixar com seu pai o filho que perdeu a mãe. Se pai e filho não estão juntos porque não querem, ok, não deve existir obrigatoriedade nenhuma de que assim o façam. Mas, quando estão separados contra a vontade de ambos, é dever do Estado promover a aproximação. Se esse reencontro demora a acontecer, certamente o é por determinação de um estado de coisas ditadas por causídicos, situações inalcansáveis para o cidadão comum... Afinal, quanto mais demora, mais ganham os doutores...

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