Há doze anos, o massacre de Eldorado do Carajás deixou um saldo terrível: 19 trabalhadores mortos e dezenas de feridos, alguns com seqüelas definitivas, que até levaram mais alguns à morte...Mas não foi tudo. O massacre continua a ecoar e a produzir fatos lamentáveis. Depois daquele traumático 17 de abril de 1996, o governo do Pará sancionou lei proibindo a promoção de policiais que estejam respondendo a processo na Justiça. Este é o caso dos PMs envolvidos no massacre. Apesar das condenações impostas, sobretudo aos comandantes da operação, ninguém está preso. Mas os processos estão abertos, o que mantém os PMs sob a lei que os impede de receber promoções. Acontece que um juiz de Belém não entende assim, e deu ganho de causa a uma ação movida por dez policiais militares que requerem promoção na capital paraense. O juiz, nada mais, nada menos, considerou inconstitucional a lei estadual que impede a promoção dos participantes do fatídico massacre.
O confronto ocorreu quando 1.500 sem-terra que estavam acampados na fazenda Macaxeira, no município de Eldorado do Carajás, decidiram fazer uma marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras improdutivas. A Polícia Militar foi encarregada de tirá-los do local, porque estariam obstruindo a rodovia PA-150, que liga Belém ao Sul do Estado.
De acordo com os sem-terra ouvidos pela imprensa na época, os policiais chegaram ao local jogando bombas de gás lacrimogêneo. Os sem-terra revidaram com paus e pedras. A polícia, então, partiu para uma ação mais violenta e atirou. Dezenove pessoas morreram na hora, outras duas morreram anos depois, vítimas das seqüelas, e outras sessenta e sete ficaram feridas.
Pois é: o juiz considera inconstitucional o fato de os policiais ficarem sem promoção enquanto o processo não tiver sentença definitiva, mas ninguém considera que fere a Constituição o fato de vários dos feridos no massacre continuarem, ainda hoje, sem atendimento médico adequado. Tem até quem esteja com bala fixada no corpo, sem condições de se tratar por conta própria, e sem que o governo responsável pela ação dos militares, lhes garanta o mínimo respeito devido ao ser humano.
Lembro bem da cara desconsolada do então governador Almir Gabriel, no dia do massacre. Ele balbuciava que o coronel Pantoja extrapolara de suas funções de comando para executar o massacre. Pantoja chegou a ser preso, e foi condenado...Mas foi tudo anulado. Também o governo elaborou a lei, para impedir a promoção dos PMs, agora revogada...É o Pará. Terra de direitos...
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