quarta-feira, 30 de julho de 2008

Bira, um brasileiro

Preste atenção ao morador de rua. Zele por ele. Se não puder, pelo menos não o maltrate. Nem o queira mal. Afinal, nunca se sabe qual deles poderá ser o seu chefe..., amanhã.
É comum dizer, ou ouvir dizer que o Brasil é um país de contrastes. Eles estão por toda parte: Seca no Nordeste, abundância de chuva no Sudeste; frio e gelo no Sul, caloraço no Norte; a maravilha das terras alagadas no Centro-Oeste e, também, na exuberante Ilha do Marajó; as praias da sensacional costa do Atlântico cobrindo do extremo Sul ao inexplorado Norte, e os rios com ondas que banham Belém e outras cidades do Pará, como não existem em nenhuma outra parte do mundo...Contrastes. Mas esses são visíveis, perceptíveis à sensação do contato visual. Também se pode perceber a gritante diferença entre a metrópole paulista, com sua pujança e traços futuristas, e as agruras de quem vive numa cidade ao lado de uma grande usina hidrelétrica do Norte e não tem luz elétrica em casa...Mas, tem uma coisa que é comum em toda parte: a brutal distância social provocada pela concentração de renda que põe prédio de luxo encravado em favela. Sim, porque mesmo em locais onde a favela já existia, a exigência da conurbação exagerada, que une cidade a cidade, vai explorando todo e qualquer espaço, de modo a evidenciar a arquitetura do contraste. E uma coisa é comum por onde quer que se ande por esse brasilzão: pedintes, mendigos, moradores de rua. Sim eles estão por toda parte. E não apenas nas periferias, mas cada vez mais perto de nossas casas...
Pois é. Nem sempre um morador de rua merece a pecha de preguiçoso. Isso é o que Bira ouvia constantemente. E, como não tinha o que comer, sentia muita fome. E as pessoas só diziam que era disso mesmo que ele gostava, de dormir. Mas ele deu a volta por cima. Longe de casa desde os 15 anos. Vivendo na rua nesse tempo todo, encontrou jeito de estudar pela internet. Sim, economizando um que dois reais por dia --ficando sem comer para poupar-- pagava pra navegar na internet, onde tomou conhecimento de um concurso do Banco do Brasil. Estudou. Do seu jeito: sem apostilas, sem professores, sem amigos, sem comentários. Estudou, estudou e estudou. Até que chegou o dia do concurso, e ele, Bira, morador de rua, aos 27 anos, foi parar nas páginas dos jornais. Mas não na seção policial. Na lista do aprovados num dos concursos mais concorridos deste País. O sonho de consumo de muuuita gente boa: Bira passou no concurso do Banco do Brasil. E, agora, sua vida começou a mudar. Vai assumir a vaga conquistada com esforço e merecimento. E, em breve, poderá ser o seu chefe. Cuide bem dele!

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